segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Resenha de Filme - O Último Poema do Rinoceronte

O Último Poema Do Rinoceronte. Desencontros e Desencontros.
Uma co-produção iraniana, iraquiana e turca de 2012, apadrinhada por Martin Scorsese,  somente agora em nossas telas. “O Último Poema do Rinoceronte” nos conta uma história inspirada em fatos reais. O diretor é o curdo-iraniano Bahman Ghobadi, que está exilado de sua terra natal, amargando situações difíceis em terras estrangeiras, sobretudo na hora de organizar a produção de um filme. A vida pessoal de Ghobadi não deixa de ter uma certa semelhança com o que é retratado na película.
Vemos aqui a história do poeta iraniano Sahel Farzan (interpretado por Behrouz Vossoughi), altamente conceituado em seu país na época do Xá Rehza Pahlevi. Mas o Xá foi derrubado pela Revolução Islâmica e a antiga elite local passou por maus bocados. Sahel e sua esposa Mina (interpretada pela belíssima Monica Bellucci) são presos, com o escritor sendo condenado a trinta anos de prisão e sua esposa a dez anos de prisão. Quando a esposa é libertada, ela recebe a notícia de que seu marido está morto e enterrado, o que não era verdade. Trinta anos depois de sua prisão, Sahel viaja para a Turquia onde sua esposa agora vive, na esperança de reencontrá-la.
O mais cruel dessa história é que várias situações como essa aconteceram, ou seja, as esposas de cidadãos presos pelo regime islâmico receberam a falsa notícia de que eles foram mortos e chegaram até ao cúmulo de erguer sepulturas falsas para as famílias visitarem, enquanto que os prisioneiros seguiam detidos. O filme denuncia, também, a perseguição à etnia curda no Irã, mesma etnia que sofreu ataque de armas químicas no Iraque de Saddam Hussein. Logo, o filme tem um alto tom de denúncia.
Outro elemento angustiante da história é uma sucessão de desencontros que acontecem recorrentemente. O casal é separado na prisão e só tem uma pequena oportunidade de se encontrarem uma última vez, mas mesmo assim, a coisa não ocorre a contento (não darei maiores detalhes para não aumentar mais ainda os spoilers). E, depois, na busca de Sahel por sua esposa, as situações adversas que depõem contra um reencontro são muito frequentes e angustiantes.
Os atores estiveram impecáveis. Monica Bellucci, aristocrática no período do Xá, e a expressão da sofreguidão em pessoa durante a Revolução Islâmica, chegando a uma idosa compenetrada que escondia todo o seu sofrimento passado com dignidade. Behrouz Vossoughi era o mutismo em pessoa. Não me lembro dele ter dito sequer uma palavra durante toda a película. Sua expressão vazia, olhando para o infinito fixa e perdidamente, detentora de uma imensa melancolia, continha uma sucessão de claros e escuros dignos do barroco mais tradicional. Em alguns momentos mais sofridos, víamos nele um choro contido, mas que deixava clara uma agonia extrema levada às raias do paroxismo. Os anos de prisão e tortura tornaram-no um homem semi-destruído. Outro personagem de destaque foi o bom ator Yilmaz Erdogan, que interpretava Akbar Rehzai, o motorista do casal nos tempos do Xá e que era perdidamente apaixonado por Mina. Esse personagem vai ter um papel muito importante na história.

Assim, “O Último Poema do Rinoceronte” é uma obra ímpar, que mais uma vez denuncia o autoritarismo existente em algumas partes do mundo, desta vez o Irã. Autoritarismo seja no trato áspero contra opositores do regime e até contra minorias étnicas perseguidas. E o uso do cruel expediente de dar a falsa informação de que o parente preso está morto quando ocorre justamente o contrário. Tudo isso escrito e dirigido por um cineasta que também amarga um exílio e diz que faz filmes para não enlouquecer, como vários artistas de origem curda que estão proibidos de se manifestar publicamente no Irã e passam por uma depressão. Definitivamente, um filme fundamental para qualquer cinéfilo.

Cartaz do filme.

Um casal que será separado...

Um motorista apaixonado por sua patroa...

Três pessoas marcadas pela Revolução Islâmica...


Torturas e divagações...


Tentando reconstruir seu passado...

O mutismo em pessoa... fisionomia barroca...


Melancolia...


Desejando um reencontro...

Nem as tentações de juventude são capazes de reanimá-lo.


Uma filha que não foi...

Olhando para o infinito...


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