O
Homem Irracional. Woody Allen Em Filosofia E Suspense.
Woody Allen cumpre seu
cronograma particular de uma média de um filme por ano e reaparece com a
película intitulada “O Homem Irracional”, estrelada por Joaquin Phoenix e Emma
Stone. E Allen nos traz uma história altamente reflexiva, como ele sempre está
acostumado a fazer. Mas sempre com um enredo altamente original e instigante,
numa prova de que a sua capacidade de contar histórias é mais infinita do que
nunca.
Vemos aqui a história
de Abe Lucas (interpretado por Joaquin Phoenix), um professor de filosofia que
vai lecionar na Universidade de uma pequena cidade americana. A personalidade
de Abe é extremamente sombria e depressiva, onde ele não vê mais qualquer
sentido na vida e nos textos que lê ou escreve. A visão de mundo soturna do
novo professor vai despertar muita curiosidade na comunidade acadêmica,
especialmente na professora Rita (Parker Posey), uma ninfomaníaca às portas da
meia idade e da jovem aluna Jill (interpretada por Emma Stone) que, ao mesmo
tempo em que se apaixona por ele, admira sua inteligência e vê com muita
curiosidade as opiniões do professor. Mas Abe não se emenda e continua em sua trajetória
melancólica. Até que um dia, quando está com Jill num restaurante, Abe escuta
junto com a moça uma conversa de um grupo de amigos na mesa ao lado. Essa conversa
(que não será dita aqui em virtude dos “spoilers”) vai despertar uma chama de
vida em Abe, mas da forma mais esdrúxula e contraditória possível. O professor
de filosofia agora tem um novo objetivo na vida e ele vai se sentir revigorado,
a ponto de levar um caso com a professora e a aluna simultaneamente. Mas o
objetivo que o professor tem a cumprir (e cumprirá) vai lhe trazer muitas dores
de cabeça e a tomada de atitudes bem drásticas, levando a um desfecho
surpreendente.
Esse novo filme de
Woody Allen não prima muito pelo humor. Os poucos lampejos de riso na história
foram mais em virtude de um humor negro. Temos aqui uma trama onde o gênero
suspense mostra um pouco mais a sua cara, principalmente na segunda metade da
película. Mas não sem se levar a discussões filosóficas. Abe criticava os filósofos
como Kant, que dizia que um mundo ideal não deveria ter mentiras. Mas você denunciaria
onde estava escondida a família de Anne Frank se os nazistas te perguntassem? Essa
é uma questão filosófica instigante onde Abe argumentava que um mundo
fantasioso no qual os filósofos forjavam seus pensamentos era bem diferente do
mundo real. E aí, para Abe, como professor de filosofia, essa percepção de um
mundo abstrato das teorias filosóficas em contrapartida ao mundo real era o que
o colocava em crise existencial. Ao escutar a conversa na mesa vizinha do bar,
Abe criou para si um objetivo de vida bem mais pragmático que os devaneios
filosóficos, mas tal objetivo implicava numa séria questão moral, questão essa
que colocou seu relacionamento com Jill em crise. Será que um excesso de
pragmatismo sem os freios filosóficos e morais de um mundo abstrato também não é
algo nocivo? É essa a reflexão que a história quer propor. Mas tudo isso com um
fio de suspense, um quê de romance policial numa película que começou com discussões
filosóficas, passou pelo drama e chegou ao suspense do final. A capacidade de
Allen de transitar pelos gêneros sem deixar de colocar questões altamente
reflexivas e que não têm uma resposta única é realmente impressionante.
Dessa forma, podemos
dizer novamente que um filme de Allen estreando é um programa obrigatório, pois
é garantia certa de genialidade do roteiro. Você realmente deve parar tudo o
que está fazendo ou reprogramar sua agenda de filmes a serem vistos para
encaixar o novo Allen nos seus planos. Se Emma Stone é a nova queridinha do
diretor, vamos ver se Joaquim Phoenix entra no clube e aparece nos próximos filmes
de Allen, assim como já aconteceu com outros atores como Scarlet Johanson ou
Alec Baldwyn. O mais importante é prestigiar mais essa nova e boa produção desse
inesgotável diretor e roteirista americano.
Cartaz do filme
Abe, um professor que não mais vê sentido na vida e filosofia
Aulas de filosofia. Questões vazias...
Abe desperta a curiosidade de Rita...
...e Jill.
Uma conversa no restaurante transformou a vida de Abe,
Corpos deformados na sala dos espelhos de um parque de diversões. Prenúncios de crise de relacionamento???
Nas filmagens, com Allen.
Allen com Stone e Posey em Cannes. Ele sempre se sentiu muito desconfortável nisso...