domingo, 22 de fevereiro de 2015

Resenha de Filme - Dois Dias, Uma Noite

Dois Dias, Uma Noite. Novamente, A Face Maldita Do Capitalismo.
Mais um filme que aborda da crueldade do sistema capitalista. “Dois Dias, Uma Noite” tem uma indicação para Oscar de melhor atriz para Marion Cottilard que, diga-se de passagem, já ganhou um Oscar em 2008 interpretando Piaf. Dessa vez, a atriz interpreta Sandra, uma trabalhadora de fábrica na Bélgica, que adoece e passa alguns dias em casa. Seu patrão irá fazer com que os demais trabalhadores do setor onde Sandra trabalha cubram as horas que a moça está faltando, dando-lhes um bônus de mil euros. Com isso, o patrão percebeu que poderia aumentar a carga horária de seus empregados e demitir Sandra, cortando custos. Mas Sandra já se recuperou de sua doença e quer voltar a trabalhar. O problema é que, se ela voltar ao trabalho, os seus colegas perdem o bônus de mil euros. Tudo isso será decidido numa votação entre os trabalhadores. Caberá a Sandra, então, visitar seus colegas em um fim de semana, para convencê-los a abrir mão de seus bônus para ela ter seu emprego de volta.
Pela sinopse, dá para perceber que o clima do filme é extremamente tenso, não havendo mocinhos e bandidos, apenas vítimas do sistema. O capitalismo, mais uma vez, é coroado (com todos os louros, diga-se de passagem) o grande vilão da situação. Já falamos aqui de outros filmes que abordam como o neoliberalismo, há alguns anos atrás, e a crise mundial em anos mais recentes, achatam a classe trabalhadora e, por que não, toda a sociedade em si. Enquanto Sandra luta desesperadamente pelo seu emprego, sob pena de perder até o lugar em que vive, as pessoas que votarão pelo futuro da moça também são muito vulneráveis a perdas. Algumas se solidarizam e a ajudam, enquanto que outras não podem fazer isso, simplesmente por falta de opção e que precisam desesperadamente desse dinheiro extra. Toda essa situação só provoca um verdadeiro desmoronamento emocional em nossa protagonista, que se culpa a cada visita, quando ela percebe que provoca brigas internas dentro dos lares pelos quais passa. É algo totalmente cruel e doloroso para todos. Um individualismo exacerbado do tipo “o meu pirão primeiro” que o sistema provoca, levando a todo o tipo de tensão.  Há, inclusive, um dos funcionários da fábrica que faz uma propaganda contrária à Sandra, induzindo seus colegas a votarem pelo bônus.
Não é preciso nem dizer que o filme orbita em torno de Marion Cottilard, que realmente deu um show. Sua cara simultaneamente doce e abatida nos dá muito dó. Apesar da também boa atuação de Fabrizio Rongione como Manu, o marido de Sandra, não dá para não reconhecer que vemos um filme de Sandra, sobre Sandra e para Sandra. Sandra, a frágil. Sandra, a lutadora. Sandra, que se indigna com a injustiça contra ela e contra seus amigos. Uma personagem forte e delicada ao mesmo tempo. Tudo de bom. E um vilão invisível, mas muito presente, com táticas sórdidas de divisão das pessoas, para que ele possa expandir todos os tentáculos malignos de sua exploração sobre os menos favorecidos.

Já cansei de falar neste meu humilde espacinho da importância maior dos filmes, que é a de fazer pensar, ideia já mencionada pelo grande cineasta polonês Andrzej Wajda. E “Dois Dias, Uma Noite” cumpre esse propósito ao lado de filmes como “Miss Violence” e “Segunda-Feira ao Sol”, já resenhados aqui. Tais filmes são extremamente necessários, pois nos identificamos com eles, são filmes de denúncia, que gritam para acordar a gente sobre os rumos pelos quais conduziremos nosso mundo no futuro. Filmes de alerta e reflexão. Filmes que devem ser sempre vistos e celebrados. Não deixem de assistir, não importa a forma, seja nas telonas, no aparelho de DVD, blu-ray, ou nos canais (bons) de TV a cabo...

Cartaz do filme


Sandra. Vítima do sistema.


Futuro incerto.


Conseguindo convencer alguns amigos...


Mas, com relação a outros...


Em algumas casas, sua presença destruiu relacionamentos...



Momentos de muita fragilidade...


Ambiente tenso no dia da votação...


Essa excelente atriz concorre ao Oscar hoje. Será que ela consegue, com filme tão agressivo ao sistema?

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