segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Resenha de Filme - Segunda-Feira ao Sol

Segunda-Feira Ao Sol. Testemunho De Que Nada Muda.
Dia desses, tive a oportunidade de rever no Cine Joia um bom filme espanhol lá de 2002, “Segunda-Feira ao Sol”. Premiadíssimo, por sinal. Só para se ter uma ideia, essa película dirigida por Fernando León de Aranoa e estrelada pelo excelente Javier Bardem, recebeu 41 prêmios e 18 indicações. Dentre os prêmios, podemos citar: Festival de Gramado de 2003 (melhor filme, diretor e ator latinos), Goya de 2003 (melhor diretor, ator, ator coadjuvante, revelação de ator, filme) e Fotogramas de Plata de 2003 (melhor filme e ator).
Temos aqui a história de Santa (interpretado por Bardem), um estivador desempregado na cidade de Vigo, Espanha, pois o estaleiro da cidade fechou em virtude de uma concorrência desleal com um grupo coreano. Santa não é o único afetado por tal situação. Todos os seus amigos passaram pelo mesmo problema de desemprego e receberam uma indenização. Uns conseguiram rearrumar suas vidas, tornando-se ou dono de bar ou segurança de uma empresa privada. Mas outros permaneceram no desemprego, o que tornava o cenário desolador. E assim, os antigos estivadores tentavam levar as suas difíceis vidas aos trancos e barrancos.
O filme é uma antiga história que se repete dentro da dinâmica do sistema capitalista. Realizado pelos idos de 2001, 2002, “Segunda-Feira ao Sol” denunciava o que a economia de mercado e o neoliberalismo provocavam de nocivo na sociedade, onde a ausência de qualquer medida protecionista por parte dos governos levavam ao  desemprego e a miséria, achatando ainda mais uma classe já não tão favorecida. Esse não foi o único filme a abordar o tema naquela época. Tivemos o excelente “Quando Tudo Começa”, de Bertrand Tavernier, que falava da vida de um professor primário da França, também enfocando os efeitos malignos do neoliberalismo na sociedade.
 Mas, voltando ao caso do filme espanhol, percebemos a total falta de perspectiva de Santa e seus colegas. O protagonista é o que tem uma atitude um pouco mais descolada, arrumando todo o jeito para buscar um dinheiro aqui e uma comida ali, seja cantando a moça que dá amostras grátis de queijo no supermercado, seja trabalhando de babá para a filha do dono do bar, que quer sair com o namorado e tem que tomar conta do filho de um ricaço. Outro amigo de Santa, Lino (interpretado por José Angel Egido), faz constantes entrevistas em agências de emprego, tentando aparentar ser mais jovem, sem sucesso. Amador (interpretado por Celso Bugallo), é o caso mais deprimente. Abandonado pela mulher, diz que um dia ela voltará e mora sozinho num prédio abandonado. José (interpretado por Luis Tosar) convive com humilhação de ser sustentado pela mulher, Ana (interpretada por Nieve de Medina), que se envolve com outro homem em seu emprego numa fábrica de atum enlatado. José, portanto, corre o risco de perder a mulher e o sustento.

Definitivamente, é uma película completamente desesperançada, no melhor estilo “a arte imita a vida”. Um filme para se refletir muito de como a ganância do sistema capitalista é capaz de destruir a vida de uma pessoa. O mais cruel aqui é perceber que a venalidade do sistema faz tal temática se tornar recorrente no cinema, pois hoje a chamada crise econômica mundial, estourada em cerca de 2008, produz histórias como a de “Miss Violence”, onde novamente corações e mentes são dizimados por situações financeiras humilhantes. Não é à toa que “Segunda-Feira ao Sol” tenha ganhado tantos prêmios. Só é de se lamentar que a película foi exibida somente no Joia e com muitas falhas nas legendas. Mesmo assim, é um programa que vale muito a pena.


Cartaz do filme.


Desemprego e semblantes fechados


Entrevistas de emprego. Tem que ter menos de 35 anos...


Medo de perder a esposa.


Desgosto pela esposa já perdida...


Santa, o mais safo...


Amigo russo. Ironias refinadas...



Que dia é hoje mesmo???? 

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