sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Resenha de Filme - Ida

Ida. A Vida De Uma Religiosa Transformada Pelo Passado.
Como o passado desconhecido de sua família pode modificar você para sempre ao ser revelado? Essa é a questão trabalhada pela produção polonesa “Ida”, exibida aqui infelizmente naquela forma de película altamente cotoca, onde o filme é estreitinho, ocupando praticamente só a metade da tela. Algo deprimente para quem gosta de curtir uma boa fotografia (não sei o porquê de alguns filmes aqui no Rio serem exibidos dessa forma melancólica). E, mais deprimente ainda, o filme foi rodado num bom preto e branco, onde a sua fotografia desempenha um papel ainda mais especial. Ver a sétima arte mutilada desse jeito dói no coração.
De qualquer forma, vamos à história. Vemos aqui a vida da noviça Anna (interpretada por Agata Trzebuchowska), que tem uma vida pacata no convento onde vive e está próxima de fazer seus votos de castidade, pobreza e obediência. Mas a madre superiora lhe comunica que sua tia Wanda (interpretada por Agata Kulesza) quer vê-la, tirando a inocente e dedicada novicinha de sua vidinha normal. A tia é um vulcão em erupção. Bebe, fuma, foi juíza na Polônia Comunista (o filme se passa no ano de 1962) tendo, inclusive, condenado a morte vários “inimigos do povo”. Tia Wanda fará uma revelação bombástica a sua sobrinha: a mocinha tem origem judia e seu pai, mãe e irmão foram executados na Segunda Guerra Mundial. As duas irão procurar os restos mortais dos familiares enterrados em cemitério clandestino, para dar a eles um enterro decente num cemitério judeu.
O filme toca em pontos muito polêmicos. Em primeiro lugar, o extermínio de judeus na 2ª Guerra. Fica claro que os executores dos parentes de Anna se apropriaram da antiga propriedade da família e lá viviam impunemente, sendo que o regime comunista nada fazia para puni-los. Em segundo lugar, o sentimento de impunidade e imunidade da tia Wanda, que dirigia bêbada pelas estradas, pois seu status de juíza lhe dava a certeza de que nada iria acontecer com ela. A vida desregrada da tia também irá interferir na vida da noviça que, mesmo depois de seus votos, terá uma experiência de vida mundana, pois a tia se suicidou tomada pela melancolia e a moça vai experimentar o fumo, a bebida e o sexo com o integrante de uma banda musical após o funeral.

O filme tem uma cadência lentíssima e uma duração pequena (apenas 82 minutos). Vale ressaltar aqui novamente o belo preto e branco, que realça bastante a fotografia. Apesar dos temas pesados, a coisa não choca muito. E, quando o filme acaba, fica aquela sensação de que ficou faltando algo, embora também já não se tivesse mais nada para dizer. A ação se esgotou muito rápido. De qualquer forma, o filme tem suas virtudes que são relembrar o holocausto judeu (algo que nunca deve ser esquecido) e os dilemas que a prática religiosa pode impor na mente das pessoas. Ah, e o preto e branco...

Cartaz do filme


Uma noviça assombrada pelo seu passado.



Vida de prostração



Remexendo o passado com a tia



Logo, as tentações surgirão...



e é difícil resistir...




Nenhum comentário:

Postar um comentário