sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Resenha de Filme - Homens, Mulheres e Filhos

Homens, Mulheres E Filhos. Todos Neuróticos.
Um filme americano sobre as relações contemporâneas, regadas com os vícios provocados pelas redes sociais. Essa é a melhor síntese de “Homens, Mulheres e Filhos”. Volta e meia o tema das dificuldades encontradas nos relacionamentos humanos bate à porta do cinema. E essa película é uma prova disso. Os mesmos temas de sempre: dificuldades no casamento, de pais para com os filhos, de crises na adolescência. Mas dessa vez com um agravante: a internet é usada como uma ferramenta que amplifica essas dificuldades e crises. Não que a ferramenta seja a culpada da crise em si, mas sim o mau uso dela.
Vários são os exemplos das neuroses encontradas nos seres humanos do filme. A mãe hiperprotetora que monitora todos os movimentos da filha na internet, a menina anoréxica e insegura que fantasia o primeiro beijo com o amigo de infância, a menina que quer virar uma estrela e acaba sendo apoiada incondicional e doentiamente pela mãe por isso, o casal entediado que busca novas experiências sexuais, o pai e filho que são abandonados pela esposa e mãe que tem um amante, etc. Todas essas pessoas têm algum abalo psicológico em algum grau e parecem inteiramente perdidas em suas atitudes. São pessoas absolutamente frágeis e que, muitas vezes, prejudicam e machucam outras em sua fragilidade. E o mau uso da internet ajuda a amplificar isso. Essa ferramenta é usada pelo casal entediado, por exemplo, em sua mútua traição. A mãe que muito protege evita que a filha tenha uma vida social ao monitorar toda a internet, numa prova de que o uso da internet em demasia está afetando cada vez mais os relacionamentos. O menino abalado com a fuga da mãe com o amante não quer mais saber de jogar no time de futebol americano e recebe ameaças anônimas pelo Whtasapp, ao mesmo tempo que se fecha ao mundo passando horas no videogame. Seu único contato com o mundo real é através da paixão que nutre com a filha superprotegida cuja mãe bloqueia a comunicação entre os dois, provocando dor no garoto, já que ele fica pensando que a menina nada mais quer com ele. Definitivamente, uma ferramenta como a internet, que deveria trazer benefícios acaba trazendo malefícios em virtude do uso que as pessoas fazem dela.
Um detalhe muito interessante da história é o paralelo que é feito entre o desenrolar da vida dos personagens e a viagem da sonda Voyager até os confins do sistema solar. Enquanto as pessoas se magoam aqui na Terra, a Voyager viaja pelo espaço de forma cândida e calma, levando o disco de cobre banhado a ouro com informações sobre a raça humana e com um texto de Carl Sagan que fala sobre como estamos sozinhos nesse pálido ponto azul que é a Terra e que, as enormes distâncias do espaço fazem com que fiquemos ao fim das contas sozinhos. Logo, temos que ser gentis com nós mesmos e nossos semelhantes. Ou seja, algo que já falei em outras resenhas: somos humanos, somos frágeis, temos nossos medos e, no fim de tudo, temos apenas a nós mesmos para nos apoiar uns aos outros. A humanidade, na melhor acepção do termo, está no sentimento de solidariedade e preocupação com o próximo, algo que fazemos cada vez menos, e isso ameaça o nosso bioma e a nós mesmos. Carinho e compreensão com a fragilidade do próximo, essa devia ser a nossa maior compreensão. O filme é cheio de crises e desencontros, cheio de falta de compreensão, que pouco a pouco brota num terreno estéril e árido de egoísmo e discórdia.
O filme também conta com um bom elenco: Jennifer Garner, Adam Sandler (isso mesmo, num papel dramático!), J. K. Simmons, Emma Thompson (como narradora), Ansel Egort (um dos protagonistas de “A Culpa é das Estrelas”). Muitas carinhas novas também, por se tratar de um filme com muitos adolescentes em crise. De qualquer forma, rolou uma química boa entre os personagens.

Dessa forma, apesar de “Homens, Mulheres e Filhos” ser mais um filme que aborde o tema da dificuldade das relações humanas, desta vez duas reflexões interessantes apareceram: como o uso da internet pode amplificar tal dificuldade e a preciosidade e sabedoria do texto de Carl Sagan sobre o que é ser humano quando se está sozinho no Universo em virtude das grandes distâncias. E a Voyager continua viajando pelo espaço, apesar de tudo...


Cartaz do filme


Uma mãe que rastreia todos os passos da filha


Um casal em busca de mais diversão


Um marido abandonado tentando esquecer o passado


Uma anoréxica querendo realizar um sonho de infância


Um menino que sofre com o abandono da mãe


Uma menina que quer ser uma estrela e um menino que não sabe transar...

Um casal fofo e neurotizado


E a Voyager segue placidamente em seu curso

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