sábado, 11 de outubro de 2014

Resenha de Filme - Dois Disparos

Dois Disparos. Vazio De Relações.
Dando sequência aos filmes do Festival do Rio deste ano, vamos falar de mais uma película argentina intitulada “Dois Disparos”. Por que esse título? Vemos a história de um garoto que está numa danceteria e retorna à sua casa ao raiar do dia. Logo ele começa a cortar a grama do jardim. Depois, treina na piscina, marcando o tempo de suas braçadas sob o olhar atento de seu cachorro. Mexendo nos objetos de sua casa, encontra um revólver carregado. E, sem qualquer motivo aparente, dá um tiro em sua cabeça (que o atinge de raspão) e um tiro em seu estômago, com a bala ficando lá alojada. O menino sobrevive e passa a ser vigiado de perto pela mãe e pelo irmão.
Os tiros são apenas um pretexto para conhecermos uma sociedade que parece anestesiada. Uma sociedade sem perspectivas, apática, desesperançada e que não vive, apenas vegeta. Temos aqui um marasmo explícito no semblante de todos os personagens. Ninguém ri, ninguém chora. Somente uma indiferença a tudo. Somente ações que não levam a lugar nenhum. O menino que se dá os tiros faz um quarteto de flauta doce que sofre com a não permanência do quarto membro, geralmente uma menina, que desiste quando percebe que o menino suicida toca com um som dobrado e desafinado em virtude do tiro que se deu. O próprio menino encontrará novamente o revólver e tentará o suicídio mais uma vez, mas agora a arma estará descarregada. A mãe incumbirá o irmão de vigiar o rapaz com a bala alojada, usando um celular muito antigo que não tem vibracall e com um som de chamada para lá de estridente e irritante. Esse irmão conhece uma menina num McDonald´s da vida, mas não engata um namoro com ela, pois a garota está “terminando” com o seu namorado já há dois anos. O núcleo adolescente do filme vive num estado de total apatia. Mas o mesmo ocorre com o núcleo adulto do filme. As relações humanas são muito frias e superficiais. Vemos isso na viagem da mãe do menino suicida a uma região do litoral ao sul de Buenos Aires, onde as pessoas que ela conhece se comportam de forma igualmente letárgica.
O filme soa como altamente depressivo. E o é. Entretanto, ele tem um elemento a mais. Toda essa situação negativa é narrada com altas doses de humor negro, o que torna a película simpática para o público, que ria muito das situações e diálogos um tanto hilários. Mas, realmente, a história abre um convite para a reflexão. Será que as sociedades modernas estão com as relações humanas tão distantes e frias? Reclamamos muitas vezes de como tem sido cada vez mais difícil viver em sociedade, como as pessoas estão mais distantes, mal educadas e até agressivas. A película argentina aborda, entretanto, um outro elemento negativo das relações humanas, talvez ainda  mais nocivo: a indiferença. A inércia e letargia das pessoas realmente incomodam muito. Uma apatia que, definitivamente, empaca as relações humanas.

Assim, “Dois Disparos” pode ser visto como uma comédia que aborda um tema pesado. Um humor ácido que convida a nos refletir. Um bom filme argentino que não te deixa indiferente.


Cartaz do Filme


Estética da indiferença


Apatias.


O mesmo ocorre com os adultos


Dificuldade de aproximações


 
Insônias.



Silenciosos banhos de sol




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