terça-feira, 30 de setembro de 2014

Resenha de Filme - Magia ao Luar

Magia Ao Luar. Você Prefere Racionalismo Triste Ou Ilusão Feliz?
Woody Allen está de volta. “Magia Ao Luar” é uma comédia romântica despretensiosa, mas isso não significa que ela não tenha nada a dizer. Até porque Woody Allen sempre tem algo a dizer. O grande barato aqui é a forma como as coisas são ditas. Ilusionismo e ocultismo são as escadas para se abordar questões mais profundas.
A história fala de um grande ilusionista, Stanley (interpretado por Colin Firth), que incorpora um personagem oriental nos seus números de magia, famosos em muitos países. Nosso protagonista é extremamente racional, arrogante, prepotente e cheio de si, beirando o insuportável. Um de seus poucos amigos, Gypsy (interpretado por Kenneth Edelson) lhe informa que uma moça de nome Sophie (interpretada por Emma Stone) afirma ser uma médium e ter visões. Stanley, que tem uma fixação por desvendar charlatanismos, já que ele próprio é um artista das ilusões, quer conhecer essa moça e vai ao encontro dela com seu amigo. Chegando lá, ele agride a menina sistematicamente, mas, ao mesmo tempo, se interessa por ela, pois Sophie destrincha toda a sua vida pregressa sem nunca tê-lo conhecido. O coração duro do mágico amolece aos poucos e ele começa a colocar todo o seu racionalismo em dúvida, sendo feliz com Sophie num mundo místico e, por que não, até certo ponto lúdico.
Fujamos dos spoilers. O que chama a atenção no filme? Em primeiro lugar, a ambientação de época. É impressionante como um bom figurino, boas locações e uns poucos carros antigos originais podem nos levar sem dificuldade para meados da década de 1920, acompanhados de uma boa trilha sonora da época e música erudita de bom gosto, como Stravinsky. A história simples e despretensiosa tem um bom acabamento e faz uma eficiente viagem no tempo usando recursos também muito simples, mas aplicados de forma extremamente competente.
Colin Firth estava estupendo fazendo o papel de um mágico arrogante, mas cheio de fraquezas e inseguranças internas que seu orgulho infinito teimava em esconder, entretanto de forma ineficiente. Emma Stone mostra ser a queridinha da vez de Woody Allen, onde sua competência exibida na nova sequência de “Homem Aranha” é inquestionável. Esse par amoroso, como não pode deixar de ser nesse tipo de filme, conduz a história e nos deixa com a alma leve, mas um tanto tensa com seus complicados “affairs”.
Entretanto, a grande mensagem do filme está na dicotomia racionalismo X ocultismo, que se associa a outra dicotomia, tristeza X alegria. O que é melhor? Viver num mundo real, sem ilusões, mas cheio de desesperança, tristeza e amargura, ou se deixar iludir por mentiras, mas ser feliz? Woody Allen se apega a essa segunda possibilidade. Muito curioso isso, pois a época abordada (meados dos anos 1920) mostrava uma crise dos paradigmas racionais. A sociedade capitalista racional tinha levado à tragédia da Primeira Guerra Mundial e à crise do racionalismo. Movimentos artísticos como o expressionismo alemão, o surrealismo e o dadaísmo colocavam em crítica a sociedade racional vigente, embora houvesse uma volta da mesma na arte em movimentos da segunda metade da década de 1920 como a Nova Objetividade na Alemanha. Allen abraça a felicidade tirada da ilusão e do irracional. Ele flerta coma vida guiada por impulsos emocionais, onde você toma decisões em busca da felicidade para a sua vida, sem pensar muito nas consequências. Obviamente que isso não ocorrerá sem dramas nem conflitos internos, como podemos presenciar no personagem Stanley, mas a decisão final é pelo irracional. O amor é irracional. Não há como ser simultaneamente feliz e racional nessa história. Só seremos felizes se agirmos por impulsos.

Uau! E toda essa discussão numa comédia romântica despretensiosa. Como já foi dito, só podia ser Woody Allen mesmo, que sempre tem algo a dizer!


Cartaz do Filme


A adorável Emma Stone, agora com Woody Allen.


Colin Firth, em magistral interpretação.


Sessões mediúnicas.


Impossível resistir aos encantos da moça.



O mestre na direção.

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