domingo, 13 de julho de 2014

Resenha de Filme - Viva a Liberdade

Viva A Liberdade. Mão Dupla De Auge E Ostracismo.
O que é ser livre para você? Estar em paz com a sua consciência? Mudar o mundo? Rever um antigo amor e jogar tudo para o alto? Essas são questões que o bom filme italiano “Viva a Liberdade” aborda. O conceito de liberdade é realmente muito relativo. A prisão de um pode ser a redenção do outro. O problema é quando e onde podemos nos encaixar em situações que nos tornam livres.
Vemos aqui a história de um político italiano, Enrico Oliveri, interpretado por Toni Servillo, o mesmo ator que foi o protagonista de “A Grande Beleza”, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano de 2014. Esse político encontra-se deprimido e desgastado, fazendo um tratamento médico à base de antidepressivos, com sua popularidade em baixa nas pesquisas de opinião nas eleições e sendo severamente criticado pelos eleitores. Enrico irá jogar tudo para o alto e fugir para Paris, escondendo-se na casa de sua ex-namorada, para desespero de seu assessor Andrea (interpretado por Valerio Mastrandrea), que não sabe do paradeiro do político. A esposa de Enrico então sugere a Andrea que ele procure o irmão gêmeo, Giovanni Ernani, um professor de filosofia que passou internado um tempo em tratamento psiquiátrico, pois talvez o irmão ruim das ideias de Enrico possa ter uma noção de onde o político esteja. O problema é que o professor foi confundido com seu irmão por um jornalista num restaurante e o entrevistou. A entrevista recuperou a imagem de Enrico e a crença do povo italiano em dias melhores. Andrea então teve a ideia de substituir Enrico por seu irmão professor Giovanni. Enquanto isso, Enrico aproximava-se cada vez mais da ex-namorada, que trabalhava em cinema, forma de arte muito apreciada pelo politico. Só que a mulher era casada com um diretor de cinema consagrado, muito admirado inclusive por Enrico, formando um triângulo amoroso não muito convencional.
Aí vemos estabelecidas várias noções de prisão e liberdade. Para Enrico, o irmão político, a prisão está na fama da vida pública, nas negociações e querelas políticas. Ele foge de todo isso buscando nos braços da antiga amada sua forma de liberdade, embora caia na armadilha opressora do triângulo amoroso. Já Giovanni, o irmão professor, tem como prisão o ostracismo, as ideias sepultadas num pequeno quarto (antes a prisão era o próprio manicômio!). Sua liberdade começa na contramão do caminho de seu irmão político, ou seja, a liberdade do professor é justamente a vida pública e sua fama, onde ele pode divulgar suas ideias para muitas pessoas, que passarão a ter uma visão mais otimista da política italiana e do futuro. São pensamentos que libertam o povo e renovam a política. E que pensamentos são esses? Justamente o reconhecimento da crise, da desilusão e da luta por um mundo melhor, sem as hipocrisias dos políticos profissionais. Com isso, o filme mostrou de forma crítica que os valores da classe política estão tão distorcidos que somente um filósofo louco poderia ser corajoso o suficiente para fazer um discurso moralmente coerente no meio político.
Enrico, o irmão político, por sai vez, também vislumbrou uma liberdade e melhora de si, afastando-se daquele mundo asséptico do poder e se aproximando de suas paixões, ou seja, o antigo amor e o cinema, arte que ele muito adorava, trabalhando inclusive como assistente de contrarregra numa filmagem. Assim, para o político, a prisão é a fama da vida pública e a má situação de seu partido, e a liberdade é a vida anônima, ao passo que para o professor é justamente o contrário, a fama da vida pública é uma forma de liberdade e a prisão é o ostracismo dos textos empoeirados no quartinho.
Pela forma como esses dois pólos de liberdade e prisão interagem na figura dos personagens irmãos, não é necessário dizer que Toni Servillo mais uma vez deu grande show, interpretando os dois irmãos gêmeos de forma deliciosa. O político introvertido que vai se abrindo aos poucos e o professor alegre e levemente louco, que se torna cada vez mais racional e coerente à medida que percebe que é uma voz de esperança ao povo italiano, encontram em Servillo atuações na medida correta, sem exageros ou caricaturas. Esse senhor italiano elegante e carismático dá muito charme aos seus personagens, quaisquer que sejam suas características. E é sempre muito bom vê-lo nos filmes europeus.
Dessa forma, não perca mais esse filme de Toni Servillo no cinema. É o tipo de película que a gente vai assistir por causa do ator. E vale muito!



Cartaz do filme. Servillo já começa bem.


Um político criticado pelos eleitores.


Que tirava o sono de seu assessor Andrea.


Mas surge Giovanni, o irmão louco.


Que conquista a tudo e a todos.


 Simpático com a imprensa.


Informal na formalidade.


 E ciente de que traz esperança ao povo italiano.


Já Enrico relaxava...


E trocava ideias com a antiga namorada...

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