quarta-feira, 18 de junho de 2014

Resenha de Filme - Oslo, 31 de Agosto

Oslo, 31 de Agosto. Tese Sobre Um Suicídio.
Imagine um país onde você tem tudo à disposição. Bom sistema educacional, saúde, oportunidades de emprego, estabilidade econômica. Um verdadeiro paraíso. Mas, mesmo com tudo isso, esse país tem altas taxas de suicídio. Existe um lugar tão contraditório? Sim! Esse lugar é a Noruega. País desenvolvido por excelência e uma população aparentemente muito triste, a ponto de várias pessoas estarem dispostas a tirar a própria vida. Algumas especialistas tentam teorizar esse paradoxo e lançam mão de argumentos como o frio excessivo, céus cinzentos sem a presença do Sol na maior parte do ano, muitos meses com longas noites de inverno, em virtude da latitude elevada. Pois bem. O filme “Oslo, 31 de agosto” busca falar dessa tristeza do povo sueco, materializada na figura do personagem Anders, um viciado em drogas que está numa clínica de reabilitação. Após dez meses de tratamento, ele recebe autorização da clínica para sair para fazer uma entrevista de emprego e rever amigos e família. Mas nosso personagem não está ainda muito bem resolvido com o mundo e com si mesmo. Tanto que o filme se inicia com recordações de sua infância narradas em off e depois uma tentativa de suicídio fracassada de nosso protagonista ainda na clínica.
O que vemos a seguir é uma viagem de Anders por um mosaico de várias situações. Primeiro, ele visita um antigo amigo, companheiro de vícios, que agora trabalha com textos sobre filosofia, é casado e tem dois filhos. Anders vai revelar a esse amigo próximo a vontade de se suicidar. O amigo revela que sua aparente vida feliz não é uma maravilha total, havendo problemas de relacionamento com sua mulher, muito trabalho, pouco sossego para realizá-lo, problemas de saúde das crianças, etc. Anders irá então para a entrevista de emprego, que se revela um total desastre, onde ele confessa ao dono da revista ao qual tenta seu emprego seu passado com as drogas, saindo repentinamente da entrevista, mesmo com o entrevistador gostando de seus textos. Nosso protagonista em seguida vai a um pequeno restaurante e escuta as conversas das pessoas, onde nenhuma ainda alcançou a felicidade plena: uma amiga confidenciando a outra as dificuldades de relacionamento com o namorado ou a cômica e extensa lista que uma garota confidencia a outra do que precisa para ser feliz. Fica claro pela extensão da lista que é praticamente impossível que ela consiga aquilo tudo simultaneamente. Enquanto perambula pela cidade o desespero de Anders vai aumentando, pois sua namorada não retorna suas ligações para retomar contato. E assim, Anders enche a caixa postal da moça com recados jamais respondidos. Ele irá a uma festa à noite para reencontrar o amigo próximo com quem conversou durante o dia, mas o amigo não aparece. Ele então puxa um papo com a aniversariante que está deprimida por ter chegado aos trinta. Depois sai com convidados e participa de uma noitada onde se aproxima de uma moça. Mas quando todos decidem tomar banho numa piscina, ele não entra e se afasta. Como sua tentativa de suicídio foi num lago, a piscina deve ter sido uma alusão imediata. Sua vida vazia, sua má integração à sociedade com experiências totalmente frustradas e o silêncio glacial da namorada o empurraram novamente às drogas. O fim do filme é emblemático: Anders se droga e depois aparecem vários cenários do filme por onde nosso personagem passou totalmente vazios, numa alegoria de um provável suicídio.

Qual é a mensagem que o filme passa? Que, às vezes, fazemos uma ideia muito utópica do que é a felicidade. Nos enchemos de expectativas que dificilmente se cumprirão em sua plenitude e nos tornamos potencialmente infelizes, a ponto de ficarmos cegos com as oportunidades de preenchermos um pouquinho os vazios que a infelicidade nos provoca. Ou, dito no popular, volta e meia fazemos tempestade em copo d’água. A verdadeira felicidade está nas coisas pequenas e na busca por ambições moderadas que não frustrem totalmente nossas expectativas. Passou-se a impressão de que todas as amarguras e depressões expressas pelos personagens do filme poderiam ser evitadas se eles abordassem a vida de uma forma menos radical. Ou seja, precisamos levar a vida na flauta e, se não conseguimos alcançar tudo o que almejamos, paciência. Que valorizemos nossas pequenas conquistas e lutemos por outras. Mas, se não a conseguirmos, pelo menos fica o alento de que tentamos. Apesar de tudo, ainda vale a pena viver.

 Cartaz do filme.


Saber aproveitar melhor as oportunidades.


Às vezes, a felicidade pode estar à sua frente...


Anders: melancolia, falta de perspectiva e tendências suicidas.


Tentando o suicídio.

Com família aparentemente feliz

Organizando as ideias com o amigo

Aniversariante balzaquiana deprimida com a idade

Buscar a felicidade nas coisas pequenas...

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