terça-feira, 10 de junho de 2014

Resenha de Filme - Inch'Allah

Inch’Allah. Ocidente Se Choca Com Oriente.
Choque de culturas. Estranhamentos. Tragédias e sofrimentos. Tudo isso encontramos no ótimo filme “Inch’Allah”, mais um a abordar o conflito árabe-israelense. Essa produção de 2012, dirigida por Anais Barbeau-Lavalette, fala de uma médica canadense chamada Chloé (interpretada Evelyne Brochu) que vai trabalhar em território palestino, atendendo num hospital que cuida exclusivamente de mulheres. Por ter ascendência judaica, ela mora em Israel e convive diariamente com as duas realidades dos grupos étnicos em conflito.
Em Israel, nossa protagonista divide um apartamento com uma soldado que trabalha no posto de fronteira, Ava (interpretada por Silvan Levy). No hospital onde trabalha, faz amizade com uma de suas pacientes, Rand (interpretada por Sabrina Ouazani), que está grávida e cujo marido está preso aguardando julgamento por terrorismo. Chloé estreita o relacionamento com Rand, que ganha a vida catando lixo num aterro sanitário próximo ao muro construído por Israel para isolar os palestinos. No lixão, a médica conhece outros meninos palestinos, que implicam com sua origem judaica e sua cor branca de pele. Mas a moça leva tudo na esportiva. A tensão na região vai aumentar com um atentado terrorista que vai ferir dois israelenses, amplamente noticiado nas tvs. Isso afetará a todos, como Ava, que sofre ao testemunhar a truculência dos seus colegas militares contra os palestinos, sem falar da tensão constante na região de fronteira. Por outro lado, um dos meninos do lixão é morto por um carro militar israelense. E nada é dito na mídia, o que provoca a indignação de Chloé. A médica se torna cada vez mais íntima dos palestinos e é advertida por seu chefe, que diz para ela não se envolver. E o seu chefe tinha razão. Chloé usa sua ascendência judaica para permitir que a família de Rand atravesse a fronteira e visite os escombros de sua antiga casa no lado israelense. Mas tal atitude foi criticada pelo irmão de Rand, que disse que só chegou a antiga aldeia com a autorização de Chloé para testemunhar a derrota de seu povo. Chloé terá uma noitada e não chegará ao seu emprego no horário, justamente no dia em que a bolsa de Rand se rompe e, devido aos bloqueios israelenses por causa do atentado, Rand não consegue chegar ao hospital, fazendo seu parto dentro do carro, o que provoca a morte do bebê. Para piorar a situação, o marido de Rand é condenado a 25 anos de prisão. Rand culpa Chloé pela morte do filho, por ter chegado atrasada para atendê-la e por estar compactuando com os dois lados dessa guerra eterna e insana, o que destrói a amizade das duas. Mas o pior ainda estava por vir. Rand, totalmente sem esperanças, pois perdeu filho e marido, aceita ser mulher-bomba e acaba sua vida num atentado terrorista, para desespero de Chloé. O epitáfio de Rand, no seu cartaz de mártir espalhado pelas ruas, dizia que ela “preferia existir na morte a viver invisível” e que morta, queria se encontrar com seu filho.
Dentre as produções que enfocam o conflito entre israelenses e palestinos, “Inch’Allah” tem o grande mérito de mostrar como a guerra destrói as relações pessoais, acabando com a paz no meio privado. É um filme que fica mais focado no pólo palestino, onde a imagem do lixão é altamente chocante, e uma gravura da Mesquita de Al-Aqsa imersa no lixo é emblemática. Todo o lixo espremido entre o muro israelense e um barranco mostra a situação de opressão que o povo palestino sofre. E, principalmente, abre os olhos do Ocidente (personificado em Chloé) para as mazelas desse conflito interminável no Oriente, provocando um choque altamente traumático em nós, ocidentais, que desconhecemos o cotidiano da zona de conflito.

Assim, “Inch’Allah” é outro filme fundamental, outro filme de denúncia, que ratifica mais uma vez a função social do cinema.


Cartaz do Filme.


Ava, Rand e Chloé.


Chloé e Ava. Fuzis em ônibus.


Enterros e protestos, fundidos em um só...


Desolação perante as ruínas da casa antiga...


Miséria no lixão palestino.


Um parto obstruído pela intolerância.


Guerra põe fim à amizade entre Chloé e Rand.

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