sábado, 21 de junho de 2014

Anakin Skywalker: Vilão ou Vítima? (Parte 2)

Anakin Skywalker. Vilão Ou Vítima? (Parte 2)
Qual seria o grande mérito de “Guerra nas Estrelas”? O maniqueísmo clássico bem X mal protagoniza um conflito violento justamente dentro do personagem mais maligno da saga. Anakin Skywalker, como todo mundo sabe, teve uma infância difícil, sendo escravo num povoado paupérrimo de um planeta desértico com dois sóis (quantos Anakins encontramos nos morros cobertos de barracos à nossa volta?). Ao ser amparado por dois cavaleiros jedis, foi visto com repúdio pelo Conselho dos nobres cavaleiros, como se ele tivesse uma essência ruim congênita. Mas, como diria o iluminista Rousseau, o homem é bom por natureza, é a sociedade que o corrompe. Ou, trocando em miúdos, o homem é produto do meio em que vive. Qui-gon Jim e Obi-Wan Kenobi investiram no jovem Anakin, mesmo a contragosto dos jedis. Logo, a visão iluminista se concretizaria. A infância difícil em Tatooine tornou Anakin um rapaz altamente impetuoso e destemido, que nem sempre Obi-Wan conseguia segurar. Logo ele descobriria o amor ao conhecer Padmé. E com ela Anakin teve o único momento idílico em sua vida, sempre permeada por muito treinamento, disciplina e batalhas violentas. Houve um grande trauma, que foi a morte da mãe e a reação violentíssima contra os algozes, numa fúria impetuosa. Depois, o arrependimento nos braços da amada ao lembrar que massacrou crianças e inocentes. Definitivamente, não foi uma juventude fácil.
Mas o divisor de águas na vida de Anakin viria no episódio três. E aí entra a grande questão. O que o impeliu a escolher o caminho do mal? O medo, um sentimento que todos nós temos e escondemos em nosso íntimo. Todo mundo tem medo de alguma coisa. Quem fala que não tem medo de nada está mentindo. E qual foi o grande medo de Anakin? De perder seu ente mais querido, Padmé. Mestre Yoda lhe dizia que o medo traz raiva e ódio, que ele, Anakin, devia se despir do medo, como se houvesse um outro mundo onde sua querida Padmé poderia estar caso ela morresse. Entretanto, como um jovem que havia passado tantas dificuldades na vida e sofrido um trauma tão violento como a morte da mãe poderia se resignar com a perda da única pessoa que o amava? A severa disciplina jedi não foi tão eficiente em lidar com os problemas psicológicos tão profundos de Anakin e ele acabou se tornando totalmente manipulável nas mãos do senador Palpatine (esse sim, um personagem clássico do mal) para a sua conversão para o lado escuro.
Filmes de mocinhos totalmente bons e bandidos totalmente maus com o tempo se tornaram cansativos e incoerentes, embora até hoje a fórmula se repita na indústria cinematográfica americana. Por isso, quando o personagem se torna complexo, com o mal e o bem em fusão e conflito, há uma atração maior por parte do público, pois é apresentado algo diferente dessa dicotomia bem X mal tão bem definida e clássica. Exemplos disso não faltam. Lembro-me do Rick, interpretado por Humphrey Bogart, em “Casablanca”, um mocinho com atraente canalhice e cinismo, e os personagens HQ Batman e Venom, que são classificados por alguns fãs (dentre eles meu amigo e consultor de HQ, Roberto) de vigilantes, ou seja, justiceiros violentos que espreitam os malfeitores pelas ruas. Darth Vader seria um exemplo desse personagem complexo onde bem e mal estão em conflito. Ou seja, Anakin Skywalker é, acima de tudo, um personagem humano, com virtudes e defeitos, amores e fraquezas, coragens e medos. Um personagem que, na segunda trilogia (episódios um, dois e três), se aproxima mais de seus espectadores, humanos como ele, com seus sonhos, com suas virtudes, com seus defeitos, com seus temores. Nunca me esqueço das palavras de meu irmão Cláudio, sobre o episódio três: “quando a gente fica sabendo da história de Anakin dá até pena, né?”. Pena definitivamente não é um sentimento bom. É um sinal do fracasso do indivíduo. Mas também uma comoção e solidariedade com o sofrimento alheio.
Vocês podem até me criticar e dizer que, mesmo com todos os problemas, Anakin ainda poderia ter escolhido o lado bom da força, pois pessoas que tiveram uma vida de sofrimento conseguiram dar a volta por cima. Mas também quanta gente por aí não enveredou também para o “dark side” por ser mal amada, por ser tripudiada, por ser desrespeitada? Essas pessoas são as únicas culpadas por seus atos? Na minha modesta  opinião, não... Charlie Chaplin já dizia em seu discurso de “O Grande Ditador”: “Só quem não é amado que tem a capacidade de odiar”.

Pelo menos no mundo da fantasia de “Guerra nas Estrelas”, Anakin teve um fim reconfortante. A cópia de “Retorno de Jedi” restaurada, com a imagem ectoplásmica de Anakin jovem ao lado de um Yoda e um Obi-Wan envelhecidos pode parecer incoerente. Mas também é libertadora, pois vimos todo o sofrimento nas costas do Anakin jovem nos três primeiros episódios. Assim, nada mais justo do que o jovem Anakin desfrutar de dias melhores em sua outra vida num plano mais etéreo. Só a lamentar todo o mal provocado por ele, consequência de males também sofridos por Anakin...

Um jovem Anakin, ainda sem as marcas da crueza da vida...


Rejeitado pelos Jedis, Anakin encontrou amparo em Qui-gon Jim


E Obi Wan Kenobi.


Perda da mãe...


Um violento trauma.


O medo de perder Padmé...


O empurrou para as mãos do senador Palpatine.


Momento mais dramático do episódio 3. Anakin chora após optar pelo mal e sujar suas mãos com sangue. Conflito evidente.


Corpo queimado...


Libertação somente com a morte.


Ectoplásmico com Yoda e Obi-Wan envelhecidos. Redenção.


Na imagem original, um Anakin mais envelhecido. 

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