terça-feira, 29 de abril de 2014

Resenha de Filme - Noé

Noé. Terror Bíblico.
Inquietante. Angustiante. Traumatizante. Isso é o mínimo que se pode falar da história de “Noé”. Confesso que nunca tive uma formação religiosa, conheço pouquíssimo do Antigo Testamento. Talvez tenha sido por isso que a experiência de ver o filme de Russell Crowe tenha sido tão assustadora.
Sobre o filme em si, bom, efeitos especiais moderados e as boas atuações de Russell Crowe, Emma Watson e, sobretudo, Anthony Hopkins na caça pelas frutinhas silvestres. O vilão Tubal-caim, interpretado por Ray Winstone, também esteve bem, assim como Jennifer Connely, que reeditou com Crowe o par de “Uma Mente Brilhante”, só a título de curiosidade. Muito boa, também, foi a escolha das locações, embora a gente hoje não saiba onde termina a locação e começa a computação gráfica. Figurinos, bom, um pouco perturbadores, pareciam com os do “Mad Max”.
Agora, o que perturba mesmo neste filme é até onde a história bíblica pode ou não ser algo verossímil. A análise da leitura que o filme faz do discurso contido no Antigo Testamento nos mostra um Deus furioso, ávido por castigar humanos que descendem de Caim, o matador de seu irmão Abel, e que se mudou para as bandas do Oriente, povoando a região com humanos de má índole. O preconceito entre Ocidente e Oriente fica claro nesta passagem. O reino de Tubal-caim é totalmente decadente, com pessoas em sofrimento total provocado pela fome, pessoas essas capazes das piores maldades para aplacar seus sofrimentos. A questão dos anjos que caem à Terra, tornando-se guardiões dos humanos, a quem eles querem proteger, é igualmente inquietante, pois Deus os castiga, já que esses anjos decidiram proteger humanos que se tornaram maus, ficando presos ao solo e se transformando em seres de pedra, numa alegoria que representa a entrega dos anjos aos pecados do mundo terreno. É uma experiência angustiante presenciar aqueles seres petrificados e deformados, ainda mais sabendo que aquilo se trata de um castigo divino. Outro detalhe assustador é como a fé de Noé no cumprimento de sua missão o torna fanático, a ponto de privar seu filho Cam de ter uma esposa e a querer matar suas netas, pois ele acreditava piamente na extinção da raça humana como missão, já que esta era causadora de tantos males. Ao não conseguir matar suas netas, sente-se culpado por ter falhado com Deus e com sua família. Assim, Noé prostra-se quando a água abaixa e vive isolado como um velho bêbado até que sua nora Ila (Emma Watson) o resgata, lhe convencendo que Deus fez tudo isso como uma espécie de provação para que ele fizesse a escolha do amor e da bondade (ô provaçãozinha braba essa!). A morte dos descendentes de Caim no dilúvio, sendo levados pelas águas turbulentas, também foi algo muito angustiante. Pecadores castigados e punidos pela água. Definitivamente, o Deus do Antigo Testamento parece não ser muito misericordioso, obviamente guardando as devidas proporções da licença poética do filme. Livre arbítrio? Nem pensar!
Um ponto positivo do filme foi a narração da criação de todas as coisas por Deus em seis dias, enquanto uma sucessão de imagens passava e mostrava algo que muito mais se assemelhava a uma explicação científica, desde o Big Bang, passando pelo surgimento da vida, indo até a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. Essa foi uma grande sacada, pois mostrou como às vezes as visões da ciência e da religião sobre o surgimento de todas as coisas podem produzir discursos que se aproximam e se assemelham em alguns pontos.

Apesar desse ponto positivo, o que mais angustia é todo o sofrimento visto no filme por questões religiosas e de fé, usando o argumento de que o homem realmente merece todos os castigos de um Deus sem um pingo de misericórdia, pois esse homem é um terrível pecador que deve ser varrido da face da Terra por um violento castigo divino. Devo confessar que preciso dar umas lidinhas no Antigo Testamento. Mas tenho medo de encontrar ainda mais desgraça por lá. Ah! Mais duas observações: a história da Arca de Noé muito provavelmente é uma releitura da mitologia dos deuses da Mesopotâmia. E, na arca do filme, não me lembro de ter visto todos os bichos, como ornintorrincos, équidnas e as araras azuis de “Rio 2”.


 Cartaz do Filme.


A arca.


Uma família para lá de traumatizada.


 Um Noé surtado.


Ila, que enfrentou uma sucessão de agonias.


Matusalém, o caçador de frutinhas silvestres. 

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