segunda-feira, 10 de março de 2014

Resenha de Filme - Fome de Viver

Fome de Viver. Terror Com Requinte.
Imagine um filme de terror com Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Pois é, isso aconteceu lá no início dos anos 80 (mais especificamente 1983) onde as atrizes estavam fulgurantes e muito joviais. Um contraste com o ambiente sombrio e pesado apresentado na trama. “Fome de Viver”, de Tony Scott, é uma estranha e estimulante combinação. Vamos analisá-la aqui.
A história nos conta a vida de um casal, John Blaylock (interpretado por Bowie) e Miriam Blaylock (interpretada por Deneuve), que aparentemente gosta de noitadas, arrumando outro casal nas danceterias da vida, para a prática de swing. Mas o que parecia uma noite de prazer termina com o assassinato das vítimas atraídas, com direito a muito sangue e consumo dele. Com o tempo, descobrimos que este casal tem uma espécie de vida imortal e que precisa se alimentar com o sangue das pessoas. A imortalidade aparece evidente no lar dos dois, com uma mobília recheada de móveis e objetos antiquíssimos e originais. Inclusive o pingente do colar de Miriam é um símbolo egípcio original da imortalidade, usado justamente como arma para ceifar as vidas de suas vítimas. Miriam, na verdade, é a que detém a imortalidade. Ao escolher seus amantes, ela, vampirescamente, dá uma mordidinha no corpo do eleito (ou eleita) e contamina o sangue da pessoa com o seu, criando um vínculo e lhe prometendo vida eterna. Mas essa vida é obtida às custas de um envelhecimento muito rápido e o moribundo, totalmente deformado pela velhice, não morre. Nesse momento, Miriam descarta seu amante e o coloca num caixão, depositando o pobre infame vivo num sótão onde há outros caixões com outros antigos casos amorosos na mesma condição, num verdadeiro museu de amantes esquecidos. Isso aconteceu com John, mas antes ele procurou a doutora Sarah Roberts (interpretada por Susan Sarandon), que realizava pesquisas médicas para reduzir os efeitos de uma estranha doença que provocava rápido envelhecimento (por sinal, a mesma doença que acometia John). Por intermédio de John, Sarah conhece Miriam, que a escolhe como próxima amante. A partir daí, cria-se todo um ambiente de tensão no ar, onde veremos ou não se Miriam consegue atingir suas mórbidas intenções.
O filme tem detalhes muito interessantes. Um início numa danceteria algo gótica, algo dark, prenunciando o clima sombrio da trama. Logo após, vemos a casa do casal, num ambiente leve, aristocrático e agradável, cheia de antiguidades, espelhando a longevidade dos personagens. Cenas de amor muito suaves e tocantes, contrastando com assassinatos muito violentos e sanguinários, inclusive um infanticídio. Contraste esse realçado na cena de amor entre Miriam e Sarah, onde o homossexualismo é colocado de forma leve e não contundente (pudera, estamos em 1983, o que já deve ter sido muito desafiador para a época!), com cenas muito delicadas, contrabalançadas por uma violência, ainda que leve, de mordidas em braços que arrancam sangue. Aliás, Miriam e Sarah são o que de melhor tem o filme. Duas belezas angelicais que simbolizam o diabólico e o racional. Deneuve já apresentando os traços da idade, mas lindíssima e poderosíssima, ainda mais quando soltava seus longos cabelos louros. Sarandon com uma beleza de menina, embora aquele penteado curto não ajudasse muito. A gente se delicia muito com a beleza e delicadeza daquelas duas. Mulher e cinema são, decididamente, duas artes que se combinam e se completam.
E o Bowie? Bom, dentro de seu aspecto multimídia, ele também buscou uma carreira cinematográfica, interpretando papéis também em filmes como “Labirinto” e “Basquiat”. Quanto à “Fome de Viver”, não sei, pode ser que eu esteja de implicância, mas suas falas me pareceram planas e áridas, desprovidas de emoção como um deserto sem vento e dunas. É aquela velha piada: como ator, Bowie é um ótimo cantor. Um último comentário deve ser feito quanto à maquiagem dos moribundos. O que achávamos um barato na década de 80 hoje parece algo muito artificial e pesado. Ao presenciarmos os cadáveres vivos e deformados, é impossível não nos lembrarmos de “Thriller”, de Michael Jackson, de “A Hora do Espanto” e coisas mais obscuras como “A Volta dos Mortos Vivos”. Uma pena, pois o que, ao meu ver, até ficou um bom filme de arte, acabou se contaminando um pouco com as características de um blockbuster de circuitão por causa da maquiagem. Mas, paciência, eram as limitações da época.

Por essas razões, “Fome de Viver” é um filme muito interessante, que estimula nossa curiosidade e aguça nossos sentidos, seja pelas situações de terror, seja pela delicadeza e beleza das atrizes.


 Cartaz do Filme.




Bowie e Deneuve


Muito Sangue


Miriam e Sarah: amor delicado regado a violência


Maquiagem artificial e pesada aos olhos de hoje...


Ambiente requintado e aristocrático


Rápido envelhecimento das vítimas de Miriam


Sótão macabro, museu de amantes esquecidos...

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