terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Resenha de Filme - Vertigo (Um Corpo Que Cai)

Vertigo e Voyeurismo.
Saiu a última cópia restaurada (2012) de “Vertigo”, mais conhecido aqui no Brasil como “Um Corpo que Cai”, do grande diretor Alfred Hitchcock. Pode-se dizer que o serviço foi muito bem feito, com imagens para lá de nítidas. É muito bom rever grandes nomes do cinema como James Stewart e Kim Novak. E também reviver essa grande história de suspense.
Para quem não conhece ou se lembra, a história fala de um detetive da polícia, John Ferguson (interpretado por Stewart) que está licenciado após, numa perseguição a um bandido, ficar pendurado no último andar de um prédio, desenvolvendo acrofobia (medo de altura). Para piorar, um policial ainda morreu tentando salvá-lo. Por isso, Ferguson resolveu dar um tempo. Mas ele foi chamado por seu amigo Gavin Elster (Interpretado por Tom Helmore), que pede que Ferguson investigue sua esposa, Madeleine (interpretada por Kim Novak), que se comporta estranhamente. Ferguson começa sua investigação e chega a uma estranha história onde Madeleine é meio que possuída por sua bisavó, que havia se suicidado no passado. Após uma tentativa de suicídio, Madeleine se aproxima de Ferguson e os dois se apaixonam. Ferguson tenta dissuadir Madeleine de suas influências espíritas e a leva a uma antiga missão religiosa  em que sua bisavó teria vivido. Mas Madeleine sobe as escadarias do campanário e se suicida. Ferguson fica meio zureta, com um baita complexo de culpa por não ter conseguido enfrentar a altura do campanário e salvar Madeleine. A partir daí, Ferguson perambula pela cidade, nos locais onde ele via Madeleine, até que ele encontra Judy, uma moça muito semelhante à Madeleine. Ferguson iniciará um relacionamento com Judy. Na verdade, Judy é Madeleine, que era uma comparsa de Elster. O amigo de Ferguson queria matar sua esposa e usou toda a história de Madeleine para atrair Ferguson. Ao subir no campanário, Elster sabia que Ferguson não conseguiria chegar até o alto e já esperava Madeleine com sua mulher morta, jogando o corpo e forjando o suicídio de Madeleine. Assim, Ferguson foi a testemunha perfeita para o suposto suicídio, com Elster fugindo com todo o dinheiro da verdadeira esposa assassinada. Mas Ferguson, obcecado com Madeleine, obriga Judy a se vestir como Madeleine. Ela esconde o segredo, pois também está apaixonada por Ferguson. Mas Madeleine deu um pequeno descuido: usou o colar da suposta bisavó, que aparecia num quadro da bisavó que estava num museu em que Ferguson espionava Madeleine. Assim, Ferguson descobriu a tramoia toda e levou Judy/Madeleine para a missão religiosa, onde tira toda a verdade da moça no alto do campanário. O problema é que uma freira surge do nada, o que assusta Madeleine, que cai do alto da torre e morre, deixando nosso Ferguson provavelmente zureta de novo...
Realmente um grande filme de Hitchcock. O grande detalhe aqui é o voyeurismo que permeia todo o filme. Ferguson vigia Madeleine o tempo todo, sempre às escondidas. Madeleine observa o quadro de sua suposta bisavó no museu. Nós, espectadores, visualizamos buquês de flores e penteados que se repetem em Madeleine e no quadro da bisavó. Ferguson busca mulheres semelhantes a Madeleine depois de seu suposto suicídio. O pavor que Ferguson tem ao encarar grandes alturas. A freira que espreita o casal na escuridão do campanário. O pesadelo de Ferguson, onde vemos composições tensas de imagens, misturadas com animações abstratas. O filme é um permanente exercício do olhar. Um olhar feito às escondidas, tenso, que não pode ser descoberto;  olhar que não descobre, inicialmente, a trama assassina (Ferguson não vê seu amigo Elster jogar a esposa morta do alto do campanário), mas deduz todo o plano também num olhar, ao ver o colar da bisavó no pescoço de Judy. Imagem que leva a outra e transmite uma mensagem subliminar, despertando a suspeita. Olhar que também retransforma Judy em Madeleine, ao ser reconstruída por Ferguson em todos os detalhes, do vestido a cor e penteado do cabelo exatos, fruto do voyeurismo de Ferguson a Madeleine durante a investigação. Todo esse exercício do olhar nos faz cúmplices de Ferguson, tanto que, quando Judy aparece pela primeira vez, pensamos imediatamente: “É Madeleine!”, justamente depois de visualizarmos tantos detalhes de seu rosto, assim como Ferguson o fez. Nós, espectadores da sala de projeção, somos assim meio que parceiros de Ferguson nesse ritual de admiração e devoção a Madeleine, o que nos aproxima do personagem protagonista do filme, provocando grande empatia (e, diga-se de passagem, impossível não ter empatia com um boa-praça como James Stewart!!!).
No mais, o filme é um interessante documento de como eram as coisas em 1958, época em que o filme foi rodado. Os carros na rua, as pessoas, hábitos, vestuário, ainda mais nessa versão tão bem restaurada, são um verdadeiro testemunho vivo em nossas retinas, trazendo o passado com tanta força e intimidade para nós no presente. Esse é um verdadeiro milagre que somente uma arte como o cinema pode nos proporcionar.

Por essas e por outras, vale a pena recordar “Vertigo” mais uma vez...

Cartaz do Filme

Ferguson e Madeleine.

Pesadelo de Ferguson.

Medo de altura (concordo plenamente...)


Confissão e Morte no Campanário. Pelo menos, o medo de altura acabou...

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