sábado, 25 de janeiro de 2014

Resenha de Filme - A Vida Secreta de Walter Mitty

A Vida Secreta de Walter Mitty – Em Busca do Negativo Perdido.

Um filme que critica a era da internet, vendo-a como uma época de maior superficialidade. Talvez essa seja a primeira impressão que “A Vida Secreta de Walter Mitty” nos deixa. Esse bom filme conta a história de um funcionário responsável pelos negativos da revista Life, o tal do Walter Mitty (interpretado pelo sempre ótimo Ben Stiller), que vê o seu emprego ameaçado pelo fim da edição impressa da Life, já que ela será apenas disponibilizada pela internet. Não só Mitty perderá o seu emprego, mas também muitos outros funcionários. Vemos aqui como a tecnologia aparece como a vilã responsável pelo desemprego, algo que já foi exaustivamente discutido por sociólogos, historiadores, geógrafos e outros estudiosos de ciências humanas. O interessante aqui é perceber que um filme americano e hollywoodiano trata desse assunto. Essa questão tecnológica também aparece no personagem de Mitty. Apaixonado por uma colega de trabalho, Cheryl (interpretada pela bela Kristen Wiig), Mitty busca iniciar uma conversa com ela numa rede social, mas não consegue nem preencher seu perfil e muito menos entrar em contato com a moça. Ele inclusive pede ajuda ao call center da rede social e percebe que sua vida é muito sem graça, embora ele tenha uma mente muito fértil e fantasie situações as mais inusitadas possíveis, o que dá muita graça ao filme. Esses devaneios fazem com que ele seja um cara muito desligado. Mas a trama da história vai se desenrolar em torno de um antigo negativo de foto. Isso porque um lendário fotógrafo, Sean O’Connell (interpretado pelo ótimo Sean Penn, que está cada vez melhor como ator assim que o tempo passa) envia negativos para Mitty, segundo O’Connell, “a pessoa que trata melhor seus negativos”, sendo que o negativo de número 25 será a quintessência de sua produção. Assim, para a capa da última edição impressa da Life, esse negativo será utilizado segundo o desejo do novo responsável pela revista, Ted (interpretado por Adam Scott) que tripudia impiedosamente Mitty. O problema é que o negativo não está na correspondência e Mitty precisa desesperadamente achá-lo para garantir esse emprego. Mas O’Connell não é lá um cara muito acessível e Mitty começa uma busca desesperada pelo fotógrafo que inclui viagens à Groenlândia, Islândia e Afeganistão, com direito a uma escalada no Everest. O filme ainda tem uma grata surpresa: a mãe de Mitty é interpretada por ninguém mais que Shirley MacLaine, sempre uma grande atriz, principalmente se nos lembrarmos de suas atuações em filmes como “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, com David Niven e Cantinflas e “Laços de Ternura”, com Debra Winger e Jeff Daniels. Assim, vemos que “A Vida Secreta de Walter Mitty” é um filme com um bom roteiro, que prende a atenção do início ao fim, tem um bom elenco e é mais um dos filmes que discutem a questão do embate tradição X modernidade, sendo que aqui a tradição é exaltada em detrimento de uma modernidade cheia de vilania. É interessantíssimo perceber as paredes da redação cobertas de capas da Life, onde cada foto era uma manifestação dos valores da tradição. Outro detalhe visível é a falta de entendimento do patrão Ted quanto ao vocabulário técnico de Mitty, que tem outra realidade tecnológica, assim como o seu desconhecimento do lema da revista, forjado nos tempos das edições impressas. As fotos também são usadas com toda uma carga simbólica, onde Ted aparece num momento ao lado de uma foto do Nixon (imagem do vilão por excelência), e Mitty, ao começar sua corrida em busca de O’Connell, passa por fotos enormes de capas antigas da revista, onde a última delas é uma foto do próprio Mitty com um capacete de astronauta, numa alusão de que ele é o grande herói salvador da tradição, coroando-a  numa visão absolutamente positiva. Só não vou dizer o que estava nesse negativo que foi usado como a capa da revista para não estragar a surpresa. Mas dou uma dica: ele irá  mais uma vez valorizar a tradição. Só para finalizar, Ted deu o apelido de “Major Tom” a Mitty de forma pejorativa (por ele ser muito desligado), mas Cheryl usa isso de forma positiva para estimular Mitty a procurar O’Connell, pois “Major Tom” conta a história de uma pessoa que persegue seus sonhos. E a música de David Bowie entra em cena mais uma vez (já tínhamos falado dela em “Eu e Você”, de Bertolucci), num lindo momento do filme, como fundo musical de um voo de Mitty pelos mares da Groenlândia. Vale a pena dar uma conferida nesse filme.

Cartaz do Filme: título em português é tradução literal do original (fenômeno raro!)


Mitty (Stiller) passando pela capa da Life com seu rosto: herói defensor da tradição.


 Mitty e Cheryl.


Mitty e O’Connell (um ótimo Sean Penn).


É sempre bom rever Shirley MacLaine!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário