sábado, 22 de dezembro de 2012

Você Conhece Victor Meirelles?

Hoje vamos falar de um grande artista brasileiro: Victor Meirelles,muito conhecido por sua pintura histórica, com destaque para o quadro "A Primeira Missa", que todo mundo conhece. Seguem alguns de seus quadros e a biografia de sempre da Wikipédia...



Victor Meirelles
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Victor Meirelles
Nome completo
Victor Meirelles de Lima
Nascimento
Morte
Nacionalidade
Ocupação

Victor Meirelles de Lima[1] (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, 18 de Agosto de 1832Rio de Janeiro, 22 de Fevereiro de 1903) foi um pintor e professor brasileiro.
De origens humildes, cedo seu talento foi reconhecido, sendo admitido como aluno da Academia Imperial de Belas Artes. Especializou-se no gênero da pintura histórica, e ao ganhar o Prêmio de Viagem da Academia, passou vários anos em aperfeiçoamento na Europa. Lá pintou uma de suas obras mais conhecidas, A Primeira Missa no Brasil. Voltando ao Brasil se tornou um dos pintores preferidos de Dom Pedro II, inserindo-se no programa de mecenato do monarca e alinhando-se à sua proposta de renovação da imagem do Brasil através da criação de símbolos visuais de sua história. Tornou-se professor da Academia, respeitado e admirado por todos, e continuou seu trabalho pessoal realizando diversas outras pinturas históricas importantes, bem como retratos e paisagens. Com o advento da República, por estar demasiado vinculado ao Império, caiu no ostracismo, e acabou sua vida em precárias condições financeiras, já esquecido por todos.
A obra de Victor Meirelles pertence à corrente romântica, mas suas influências foram ecléticas, absorvendo também traços do Barroco e do Neoclassicismo. Foi autor de algumas das mais célebres recriações visuais da história brasileira, que até os dias de hoje permanecem vivas na cultura nacional e são incessantemente reproduzidas em livros escolares.
Biografia
Primeiros anos
Victor Meirelles de Lima era filho dos imigrantes portugueses Antônio Meirelles de Lima e Maria da Conceição, que viviam com limitados recursos econômicos. Segundo se registra, ainda menino Victor Meirelles passava seu tempo desenhando bonecos e paisagens de sua Ilha de Santa Catarina. O seu talento precoce foi notado e incentivado pela família e por autoridades locais, e em 1845 começou a ter aulas regulares com um professor de desenho geométrico, o engenheiro argentino Marciano Moreno. Alguns de seus desenhos foram vistos e apreciados por Jerônimo Coelho, conselheiro do Império, que os mostrou ao então diretor da Academia Imperial de Belas Artes, Félix-Émile Taunay. O diretor de imediato aceitou o jovem, então com apenas quatorze anos, como aluno da instituição. Transferindo-se para o Rio de Janeiro em 1847, passou a frequentar o curso de desenho, tendo as despesas iniciais financiadas por um grupo de mecenas e sendo alundo de Manuel Joaquim de Melo Corte-Real e Joaquim Inácio da Costa Miranda. Já no ano seguinte conquistou uma medalha de ouro e pouco mais tarde voltou à sua cidade natal para visitar seus pais. Data desta época a primeira de suas obras conhecidas, um panorama da Ilha do Desterro.[2][3]
Em 1849 estava novamente no Rio, estudando na Academia entre outras a disciplina de pintura histórica, gênero em que obteve seus maiores sucessos, estudando com José Correia de Lima, que fora discípulo de Debret. Consta que Meirelles era um aluno brilhante, destacando-se em todas as disciplinas. Em 1852 venceu o Prêmio de Viagem à Europa com a pintura São João Batista no Cárcere.[3]
Estudos na Europa
Aos 21 anos incompletos, Victor Meirelles desembarcou em Havre, na França, em junho de 1853. Passou brevemente por Paris e em seguida estabeleceu-se em Roma, seu destino original. Lá conheceu dois outros alunos da Academia que também fazia seu aperfeiçoamento, Agostinho da Motta e Paliére Grandjean Ferreira, que o introduziram no ambiente artístico da cidade e o orientaram sobre quais mestres deveria procurar. A princípio entrou na classe de Tommaso Minardi, que a despeito de sua fama seguia um método austero demais, onde os alunos permaneciam excessivamente subordinados aos preceitos, sem oportunidade de desenvolverem idéias próprias. Então abandonou a classe e se matriculou no atelier de Nicola Consonni, membro da prestigiada Academia de São Lucas. Consonni também era rigoroso, mas Meirelles aproveitou bem as sessões de modelo vivo, imprescindíveis para o refinamento do desenho da figura humana, elemento essencial no gênero da píntura histórica. Paralelamente, exercitava-se na aquarela e entrava em contato com o vasto acervo de arte antiga da capital italiana. Numa segunda etapa, transferiu-se para Florença, conhecendo os museus locais e sendo fortemente impressionado pela arte de Veronese. Como estudo copiou obras do mestre renascentista, bem como de outras figuras destacadas: Ticiano, Tintoretto, Lorenzo Sotto e Campagnuolo. Como era exigido pela Academia, regularmente enviava para o Brasil suas obras como prova de seu progresso. Seu rendimento era tão bom que o governo brasileiro decidiu renovar em 1856 sua bolsa de estudos por mais três anos, além de indicar ao artista uma lista de novos estudos específicos que ele deveria cumprir.[3]
Desta forma, em 1856 seguiu para Milão e logo depois para Paris. tentou ser admitido como aluno de Paul Delaroche, mas o mestre repentinamente faleceu. Assim precisou buscar outra orientação, encontrando-a em Léon Cogniet, pintor romântico igualmente celebrado, membro da École des Beaux Arts e uma referência para os estrangeiros que iam estudar na Europa. Em seguida estudou com André Gastaldi, que possuía quase a mesma idade que Meirelles, mas que tinha uma visão mais avançada sobre a arte e lhe deu importante instrução sobre cores. Teve em Araújo Porto-Alegre, então diretor da Academia brasileira, um outro mentor valioso e atento, que forneceu a ele orientação suplementar através de assídua correspondência. Sua rotina, segundo relatos, era quase monástica, dedicando-se integralmente à arte, e novamente seus estudos foram considerados tão bons que sua bolsa de estudos foi prorrogada outra vez, por mais dois anos. Nesta época sua produção era numerosa, destacando-se obras como A Primeira Missa no Brasil, que lhe valeu espaço e elogios no prestigioso Salão de Paris de 1861, um feito inédito para artistas brasileiros que repercutiu muito positivamente no Brasil.[3]
Retorno ao Brasil e consagração
No mesmo ano sua bolsa terminou e ele votou à pátria, já festejado como um gênio. Expôs publicamente A Primeira Missa e entre muitas homenagens recebeu do imperador Dom Pedro II a Ordem da Rosa no grau de cavaleiro. Logo depois viajou para Santa Catarina para visitar sua mãe - o pai falecera enquanto ele estava na Europa. Permaneceu algum tempo ali e retornou ao Rio, onde foi noemado professor honorário da Academia, sendo promovido pouco depois para professor interino, mais tarde assumindo como titular. Testemunhos de alunos seus declaram o seu respeito pelo artista, dando prova de seu caráter impecável e sua enorme dedicação à docência, sendo considerado um professor atencioso, paciente e verdadeiramente interessado no progresso de seus discípulos. Sua fama se consolidou e desta época é sua famosa Moema, uma das mais conhecidas obras do indianismo pictórico brasileiro, mas que em sua primeira exposição pública não atraiu interesse. Não obstante, recebeu encomendas da família imperial, pintando o Casamento da Princesa Isabel e um retrato do imperador em 1864, além de retratos de membros da nobreza e da política. Tornou-se conhecido também pela sua devoção às causas nacionais, e por isso foi contratado em 1868 pelo governo para realizar pinturas sobre a Guerra do Paraguai, que estava em pleno andamento, num contrato que ao mesmo tempo o honrava e lhe dava boa remuneração.[3]
Imediatamente Meirelles deslocou-se para a região do conflito para colher impressões da paisagem e do ambiente militar. Instalou um atelier a bordo do navio Brasil, a capitãnea da frota brasileira, e ali passou seis meses elaborando esboços para suas obras. Voltando ao Rio, ocupou um espaço no Convento de Santo Antônio que transformou em atelier e meteu-se`ao trabalho afincadamente, isolando-se do mundo. Desse esforço resultaram duas de suas obras mais importantes, ambas de grandes dimensões: a Passagem de Humaitá e o Combate Naval de Riachuelo, além de mais outra, a Abordagem do Vapor Alagoas. Enquanto estava nesses trabalhos recebeu a visita da família imperial, com quem mantinha contato, o que resultou em novas pinturas e no envio do Combate Naval para representar o Brasil em uma feira internacional promovida nos Estados Unidos. No retorno da exposição a obra foi estragada.[3]
Em 1871 pintou o Juramento da Princesa Regente, e em 1875 iniciou os esboços para uma outra grande obra histórica, a Batalha dos Guararapes, aceitando um projeto que fora recusado por Pedro Américo, que preferiu trabalhar sobre a Batalha de Avaí. Como fizera antes, deslocou-se à região onde ocorrera o conflito para conceber a composição com maior verdade. Ambas as obras foram expostas no Salão acadêmico daquele ano, desencadeando a maior polêmica entre a crítica que até então se travou no Brasil. Enquanto uns reconheciam as habilidades dos pintores, outros o acusavam de plágio. A discussão tomou os jornais e revistas durante meses.[3]
Em 1883 estava de novo na Europa, onde fez uma nova versão do Combate Naval de Riachuelo, que se perdera, e na Bélgica iniciou em 1885 a execução do Panorama do Rio de Janeiro, uma vista paisagem tomada a partir do morro do Santo Antônio. Para isso, contou com a ajuda do belga Henri Langerock. Em 1887 a pintura foi exposta em Bruxelas, fazendo uso de um cilindro giratório que permitia aos espectadores contemplar as vistas em 360 graus. Em 1889 a obra foi exposta na Exposição Universal de Paris e, posteriormente, no Rio de Janeiro. No Brasil, Victor Meirelles produziu outras pinturas nessa linha, como o Panorama da Entrada da Esquadra Legal - Revolta da Armada e o Panorama do Descobrimento do Brasil.[3]
Anos finais
Em 1889, com a Proclamação da República, veio a perseguição política aos artistas oficiais da Monarquia e a demissão precoce da Escola Nacional de Belas Artes, que substituiu a Academia Imperial. Victor Meirelles, aos 57 anos, foi afastado com o pretexto de já possuir idade avançada. Em 1893, o artista tentou fundar sua própria escola, não obtendo sucesso. Sem recursos, o artista instalou o Panorama do Rio de Janeiro num barraco, onde cobrava um mil réis por visitante. Parte desses recursos foi usada para sua sobrevivência e a outra parte foi revertida, por decisão do próprio artista, para a Santa Casa de Misericórdia. O júbilo e o reconhecimento do artista se transformaram em miséria. Muitas obras se perderam por ignorância das autoridades da época, que não souberam distinguir a ideologia política da arte em sua essência. O artista finalmente desiste de produzir e segue sua vida doente e abandonado. Na manhã de um domingo de carnaval, em 22 de fevereiro de 1903, Victor Meirelles não resiste e morre, aos 70 anos, na casa simples onde vivia. Nada mudaria a animação dos foliões na capital da República, nem mesmo a morte de um dos maiores pintores da história brasileira.
Alguns anos após a morte do pintor, seus panoramas foram estocados em depósitos na Quinta da Boa Vista, onde mofaram e apodreceram com a umidade. Considerados irrecuperáveis, as obras foram jogadas na bacia da Guanabara. O artista pensava que seria reconhecido pelas futuras gerações devido a esses grandes panoramas, porém tudo o que foi salvo foram pequenos esboços.
Estilo
Victor Meirelles, apesar de educado em uma tradição neoclássica tingida pelo Romantismo, desenvolveu um estilo cujas influências formais maiores são mais antigas. Mesmo dando enorme ênfase ao desenho, característica típica do neoclassicismo, o modo como organizava suas grandes composições, com grupos opostos se equilibrando mutuamente formando um movimento em grandes curvas, e o tratamento basicamente pictórico e não gráfico da pintura o aproximam da produção do barroco veneziano e espanhol. Outra influência importante em seu período de formação foi o contato com a produção do grupo dos Nazarenos, especialmente através de seus professores Minardi e Consoni, que desde o início estiveram ligados ao grupo. Este advogava uma postura de pureza expressa em uma vida exemplar e em uma pintura focada em temas nobres, onde a religião tinha um papel central. Meirelles não se tornou célebre por suas obras religiosas, que são poucas e de importância secundária, mas os ideais de pureza, vida ilibada e trabalho árduo e honesto do grupo deixaram suas marcas na personalidade e na obra do pintor brasileiro.[4]
Meirelles não criou uma linguagem nova, mas atualizou uma tradição inaugurada séculos atrás, e seu sucesso como criador de símbolos válidos até hoje é a marca de sua originalidade usando recursos tradicionais. O seu classicismo se observa na harmonia geral das obras, em seu caráter plácido, na sua interpretação da Natureza carregada de poesia, e mesmo quando se tratam das suas batalhas monumentais - Guararapes, Riachuelo - a impressão de movimento e violência, que seriam esperadas para tais temas, fica em segundo plano e o que ressalta é a organização equilibrada do conjunto, anulando em grande medida o efeito de drama. Como bem observou um de seus primeiros críticos, Duque Estrada, falando da Batalha naval do Riachuelo:
"Como se vê, o assunto não é ingrato; pelo contrário, oferece magníficos pontos de efeito. Mas, a natureza de Victor é tímida, não lhe consente ver o lado trágico da luta. E, por este motivo, o quadro é sereno; a luz da tarde banha cariciosamente, num beijo morno e demorado, esse vasto cenário enevoado pelo fumo; nas mansas águas do rio nadam paraguaios, bóiam dois corpos mortos e um camalote, destroços do combate. De um lado, à direita, enchendo o primeiro plano, vê-se um convés de navio já meio submergido. Sobre ele estão ainda alguns tripulantes, uns atarefados em carregar um canhão, outros assentados impassivelmente; na caixa da roda desse navio figura um marinheiro da nossa armada, ajoelhado, fitando o céu e fazendo um belo gesto com o braço direito; defronte dessa figura tornada estátua, um oficial da marinha inimiga aponta-lhe ao peito, com a calma de um atirador de salão, o cano de uma pistola; mais adiante há um velho que atravessa horizontalmente o navio que se submerge em linha vertical. É isto o combate naval de Riachuelo pintado por Victor Meirelles. (…) A tranqüilidade que caracteriza os combatentes no convés do vapor paraguaio longe está de nos transmitir o angustiado transe por que passam esses vencidos. Tanta calma, tanta serenidade, em tal momento!"[5]

A declaração do próprio pintor sobre a Batalha dos Guararapes é uma clara indicação de seus princípios estéticos e éticos:
"Na representação da batalha dos Guararapes não tive em vista o fato da batalha no aspecto cruento e feroz propriamente dito. Para mim, a batalha não foi isso, foi um encontro feliz, onde os heróis daquela época se viram todos reunidos. (…) A minha preocupação foi tornar saliente, pelo modo que julguei mais próprio e mais digno, o merecimento respectivo de cada um deles, conforme a importância que se lhes reconhece de direito. Sobre estas bases, a minha composição não podia deixar de ser tratada com simplicidade e nobreza, como era peculiar ao próprio assunto. (…) O movimento na arte de compor um quadro não é, nem pode ser tomado ao sentido que lhe querem dar os nossos críticos. O movimento resulta do contraste das figuras entre si e dos grupos entre uns e outros; desse contraste nas atitudes e na variedade das expressões, assim como também nos efeitos bem calculados das massas de sombra e de luz, pela perfeita inteligência da perspectiva, que, graduando os planos nos dá também a devida proporção entre as figuras em seus diferentes afastamentos, nasce a natureza do movimento, sob o aspecto do verossímil, e não com cunho do delírio. Nunca o movimento em um quadro, no seu único e verdadeiro sentido tecnológico, se consegue senão à custa da ordem, dependente da unidade principal, que tudo subordina no acordo filosófico do assunto com os seres que retratam."[6]

Legado
Victor Meirelles floresceu num momento crítico da história nacional. Independente há poucos anos, o país buscava consolidar sua posição entre as grandes nações através de um programa de modernização, onde era óbvia uma motivação nacionalista e onde o apoio às artes era indispensável como testemunho e propaganda do avanço conquistado como civilização culta e como potência militar regional. Mas na época não havia ainda sido formado um imaginário simbólico capaz de agregar as forças do povo e das elites. Recém emergindo da tradição barroca, que ainda se mantinha viva em diversos locais, mas que já era considerada ultrapassada desde o início do século sob o influxo da vanguarda neoclássica patrocinada pela corte portuguesa e pela Missão Francesa, quando Meirelles retornou de sua temporada de estudos na Europa também o neoclassicismo já se havia transformado e surgia no Brasil uma tendência romântica, que existia também na Europa, e que forneceu os meios emocionais e ideológicos necessários para a primeira construção de símbolos que aglutinassem o sentimento de identidade nacional. Nesta construção, que foi habilmente orquestrada pelo governo, a atuação de pintores como Victor Meirelles foi fundamental. Patrocinados pelo Imperador Dom Pedro II, que teve um papel extremamente ativo em todo esse processo, Meirelles, junto com outros pintores como Pedro Américo e Almeida Júnior, sucederam em plasmar uma série de imagens de grande poder evocativo, que até hoje permanecem vivas na memória coletiva da nação[7][8][9][10]
A Academia Imperial, onde Meirelles se educou, foi um dos braços executivos desse programa civilizatório que buscava também um afastamento da lembrança dos tempos coloniais sob o jugo português através da filiação a outros modelos de cultura, como a França e a Itália, para onde os pensionistas se dirigiam em seu aperfeiçoamento. Ao mesmo tempo em que em termos culturais a dependência da inspiração estrangeira permanecia inescapável, elementos tipicamente brasileiros antes renegados como o índio passavam a ser reintegrados, enaltecidos e mesclados aos referenciais europeus como parte das raízes locais necessárias à legitimação da cultura nacional, numa síntese não desprovida de contradições:

"Não havia uma consciência clara das dificuldades de transpor para o Brasil, um país em formação, modelos importados de países como a França. O Brasil era constituído de uma sociedade cultural e artisticamente pouco complexa, cuja elite intelectual, seduzida pela cultura européia, não podia perceber até que ponto era problemático para esta cultura criar raízes e se desenvolver livremente em uma sociedade ainda em crescimento "'.[11]

Sintomáticas da intencionalidade e de certa forma artificialidade desse nacionalismo inventado pelas elites foram as circunstâncias da elaboração da primeira grande obra-prima de Victor Meirelles, a Primeira Missa no Brasil. Durante sua criação Meirelles manteve contato por correspondência com o então Diretor da Academia, Manoel de Araújo Porto-Alegre, que servia como porta-voz da ideologia e conduzia o trabalho do pintor em vários aspectos, o que de resto aconteceu durante todo o seu período de estudante.[12] Foi na Biblioteca de Sainte-Geneviève, em Paris, que ele encontrou material para estudo sobre o índio brasileiro, e não no Brasil, onde os índios há muito haviam sido impelidos para regiões remotas, dizimados ou completamente aculturados. Lá ele estudou a documentação e os registros etnográficos sobre os nativos deixados pelos naturalistas, e foi lá que teve contato com a carta de Pero Vaz de Caminha, que lhe serviria como pano de fundo para sua criação. Jorge Coli escreve:
"Meirelles atingiu a convergência rara das formas, intenções e significados que fazem com que um quadro entre poderosamente dentro de uma cultura. Essa imagem do descobrimento dificilmente poderá vir a ser apagada, ou substituída. Ela é a primeira missa no Brasil. São os poderes da arte fabricando a história."[13]
Em 1861, a Primeira Missa no Brasil foi aceita com referências pelo júri do Salão de Paris, fato inédito para um artista brasileiro até então. A riqueza de detalhes da pintura de grandes dimensões, representando múltiplas expressões e situações, eternizaram a versão histórica oficial da descoberta do Brasil como um ato heróico e pacífico, celebrado em ecumenismo por colonizadores e indígenas. Se, por um lado, a pintura lhe rendeu homenagens como a Ordem da Rosa, também originou as primeiras críticas, justamente pelo que seria "um excesso de imaginação". Em 1876 esta obra foi uma das representações do Brasil na Exposição Internacional da Filadélfia, nos Estados Unidos, e nos anos 60 ilustrou muitos livros de estudos de história do ensino fundamental.
A exposição de outra de suas grandes composições, A Batalha de Guararapes, ao lado da Batalha do Avaí de Pedro Américo, no Salão de 1879, originou um debate público inédito no cenário artístico brasileiro. Calcula-se que cerca de 80 artigos tenham sido publicados sobre o acontecimento, inaugurando um período fértil para a formação de um corpo de crítica nacional sobre estética e ideologia, abordando temas candentes na época como o nacionalismo, a função da crítica e a oposição entre as vanguardas e a tradição acadêmica. As acusações de plágio levantadas contra o autor da Batalha de Guararapes demonstram que a tradição acadêmica, onde a citação erudita era um dado aceitável e esperado, já não era consenso e o individualismo burguês ganhava terreno, o que levaria no século seguinte à aparição das vanguardas modernistas.[14] Esta exposição se tornou memorável também porque conseguiu mobilizar virtualmente toda a população do Rio de Janeiro para ir visitá-la. Na época o Rio contava com cerca de 300 mil habitantes, e foram registradas 292.286 visitas ao longo de um período de 62 dias, demonstrando o enorme interesse da população em geral pela agitação artística daqueles dias e pelos temas nacionalistas, marcando o início de sua inserção como força ativa e autoconsciente no cenário político e cultural brasileiro.[15]
Apesar de seus quadros históricos serem o centro de sua produção, e ele ser comprometido com a tradição acadêmica de composição, nos panoramas do Rio que ele pintou se evidencia sua abertura para um novo modo de ver e conceber a paisagem, influenciado pelas novas tecnologias visuais que emergiam na época, como a fotografia[16]
Victor Meirelles foi um dos mais brilhantes egressos da Academia Imperial e um dos primeiros mestres nacionais a receberem reconhecimento no estrangeiro, foi professor de muitos pintores que fariam mais tarde nome por si mesmos, como, Castagneto, João Zeferino da Costa, Augusto Rodrigues Duarte, Estevão Silva, Modesto Brocos y Gomez e José Maria de Medeiros, Rodolfo Amoedo, Henrique Bernardelli, Almeida Junior, Rafael Frederico,e sua expressiva produção o coloca em posição destacada na história da arte brasileira, permanecendo muitos de seus quadros não apenas como relíquia de um período artístico passado, mas continuando vivos na alma da nação, tendo sido o veículo para a materialização visual de alguns de seus mitos fundadores.
Principais obras
Ver também
Notas e referências
  1. Segundo as regras vigente da ortografia da língua portuguesa, o nome do pintor deve ser escrito Vítor Meireles de Lima
  2. Makowiecky, Sandra. O tempo de Victor Meirelles e a Cidade de Florianópolis. IN 19&20. Rio de Janeiro, v. III, n. 4, out. 2008
  3. a b c d e f g h Mallmann, Regis. Os passos do maior pintor brasileiro do século XIX entre Desterro, Paris e o Rio de Janeiro. IN website do Museu Victor Mirelles
  4. LEITE, Reginaldo da Rocha. A Pintura de Temática Religiosa na Academia Imperial das Belas Artes: Uma Abordagem Contemporânea. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume II, n. 1, janeiro de 2007. [1]
  5. DUQUE ESTRADA, Luiz Gonzaga. A arte brasileira. Rio de Janeiro: H. Lombaerts, 1888 [2]
  6. Citado em DUQUE ESTRADA, op. cit
  7. FRANZ, Teresinha Sueli. Victor Meirelles e a Construção da Identidade Brasileira. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume II, n. 3, julho de 2007. [3]
  8. RODRIGUES, Leonardo. As “Primeiras Missas” e a construção do imaginário brasileiro na obra de Victor Meirelles e Candido Portinari. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume II, n. 1, janeiro de 2007 [4]
  9. CARDOSO, Rafael. Ressuscitando um Velho Cavalo de Batalha: Novas Dimensões da Pintura Histórica do Segundo Reinado. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume II, n. 3, julho de 2007. [5]
  10. BISCARDI, Afrânio. ROCHA, Frederico Almeida. O Mecenato Artístico de D. Pedro II e o Projeto Imperial. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume I, n. 1, maio de 2006 [6]
  11. BAEZ, Elizabeth, citada em FRANZ, op. cit
  12. Como exemplo veja-se os conselhos dados por Araújo referentes à composição da Degolação de São João Batista, em PORTO-ALEGRE, Manoel de Araújo. Três cartas a Victor Meirelles, 1854, 1855, 1856 [7]
  13. citado em FRANZ, op. cit
  14. GUARILHA, Hugo. A questão artística de 1879: um episódio da crítica de arte do II Reinado. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume I, n. 3, novembro de 2006 [8]
  15. CARDOSO, op. cit
  16. DE FRANCA, Cristina Pierre. Victor Meirelles e os Panoramas
Ligações externas


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