Blog Mantido por Carlos Eduardo Lohse Rezende. Aqui serão feitas algumas reflexões e tentativas de se escrever alguma coisa que preste ou faça sentido. Me perdoem se eu não conseguir...
sábado, 19 de novembro de 2016
Resenha de Filme - 13 Minutos
Treze
Minutos. Por um Triz.
Um excelente filme
alemão em nossas telonas. “Treze Minutos” é mais uma das intermináveis
películas que abordam a questão da Segunda Guerra Mundial e do Nazismo. Desta
vez, vai se falar de um atentado. Um atentado real, ocorrido em 1939, ano de
início da guerra. E não é um atentado qualquer. É um atentado contra a vida do
próprio Adolf Hitler, planejado por apenas um homem. E um atentado que quase
obteve sucesso.
Vemos aqui a história
de Georg Elser (interpretado por Christian Friedel), um músico que tem uma vida
pacata e mulherenga. Mas tudo isso terminaria com a progressiva ascensão dos
nazistas ao poder, com uma escalada de ódio e violência. E aí, todo o mundo
prosaico, idílico e tranquilo de Georg cai por água abaixo. Ele tem amigos
comunistas que o incitam a ir para a luta armada, mas Georg acha que a
violência não resolve nada. Até que ele vê um de seus amigos ser preso e ir
para um campo de concentração. Ainda, ele fica extremamente preocupado com a
situação da Alemanha no contexto internacional, ao perceber a “blitzkrieg”
(guerra relâmpago) de Hitler e as declarações de guerra contra seu país, o que
destruiria a Alemanha. Assim, ele resolveu cortar ele mesmo o mal pela raiz e
tramou um plano para assassinar Hitler com um atentado, onde explosivos seriam
usados. Mas...
O filme é altamente
instigante e prende a atenção do espectador do primeiro ao último segundo. Uma
película alemã falando de um tema altamente espinhoso para os alemães, onde o
tendenciosismo pode ser algo problemático. Se o nazismo é apresentado de uma
forma branda, pode-se acusar os produtores de complacência. Se o nazismo, por
sua vez, é apresentado de forma extremamente violenta, pode-se acusar os
produtores de sentimento de culpa e de se carregar muito nas tintas por isso.
Mas podemos dizer que essa é uma história em duas camadas. A primeira se remete
ao atentado em si, à prisão de Georg e a longa sessão de interrogatórios e
torturas que ele sofre por parte dos nazistas, que não acreditam em sua versão
de que ele orquestrou todo o atentado sozinho. E a segunda camada é um “flash
back” onde Georg se lembra de sua vida pregressa, lá no ano de 1932, quando
tudo era calmo e tranquilo, até que os nazistas começaram a se fazer cada vez
mais presentes em sua pequena cidadezinha. Se num primeiro momento, a impressão
que se dá é a de que os interrogatórios e torturas são a coisa mais pesada da
película, essa ideia se desvanece por completo quando vemos a segunda camada do
filme, onde é muito mais assustador ver como o nazismo chega aos poucos, sem
despertar alertas mais profundos, e paulatinamente vai envenenando corações e
mentes de pessoas de bem, mostrando o verdadeiro perigo dessas ideologias
autoritárias. E o pior de tudo: como essa chegada progressiva destrói vidas
privadas, como pudemos ver no relacionamento de Georg e Elsa (interpretada por
Katharina Schüttler), uma mulher casada que não aguenta mais as inconveniências
e agressões do marido beberrão. A ligação do marido com os nazistas e a de
Georg com os comunistas somente torna esse conflito ainda mais explosivo e
perigoso.
Assim, “Treze Minutos”
é mais um daqueles filmes sobre temas já exaustivamente discutidos, refletidos
e apresentados no cinema, que são o nazismo e a Segunda Guerra Mundial, mas que
nunca esgotam o interesse. E, desta vez, tivemos vários motivos para ficarmos
interessados. Em primeiro lugar, um filme sobre o nazismo feito por alemães, um
tema sempre delicado para ser falado pelo próprio povo que o cometeu. Em
segundo lugar, é mais uma história real que chega às telonas, sobre uma pessoa
comum que pratica sozinha um atentado contra um ditador ainda ao início da
guerra, quando o führer ainda era visto como uma figura divina pela maioria da
população. E, em terceiro lugar, e talvez o mais importante, mostra como essas
ideologias autoritárias são perigosas e envenenam progressivamente as cabeças
das pessoas de bem. Um filme para se ver, ter e guardar.
Cartaz do Filme
Georg Elser, um músico que tem sua vida transformada pelo nazismo
Elsa, a amante
Amigos comunistas
Planejando um atentado
Dias duros na prisão
Violentas torturas
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
Resenha de Filme - Amnésia
Amnesia.
Alemanha De Anteontem, Ontem E Hoje.
Um baita filme em
nossas telonas. “Amnesia”, de Barbet Schroeder, pode ser classificada como uma daquelas películas que
nos acerta no estômago com muita força. Sim, esse é mais um filme daqueles que
aborda a temática da Segunda Guerra Mundial e do nazismo, mas agora sob o
prisma alemão. E, em síntese, podemos dizer que a história é um conflito vivo
de gerações que passaram pelo trauma de ver seu país gerando um regime
extremamente autoritário e assassino.
No que consiste a
trama? Vemos aqui a história de Martha (interpretada por Marthe Keller), uma
senhora de meia idade que vive numa casa isolada na ilha de Ibiza. Estamos no
ano de 1990, um pouco depois da queda do Muro de Berlim. Martha é uma mulher de
hábitos, digamos, pouco convencionais. Vive numa casa sem luz elétrica, e
recusa qualquer coisa que se remeta ao seu país de origem, a Alemanha, indo
desde falar o idioma pátrio até andar em fuscas ou beber vinhos alemães. Obviamente,
ela sente vergonha e revolta das atrocidades cometidas pelos nazistas, sendo
esse o motivo de sua aversão a tudo que seja de origem alemã. Mas, um belo dia,
bate à sua porta o seu novo vizinho, o jovem alemão Jo (interpretado por Max Riemelt),
um rapaz que tem como sonho ser DJ de Amnesia, a principal danceteria de Ibiza,
numa época em que esse emprego era uma verdadeira novidade. Logo, logo, os dois
desenvolverão uma amizade próxima e com muitas afinidades. Mas Jo ficará
altamente incomodado com essa repulsa de Martha a toda e qualquer referência
alemã, pois ele acredita que sua amiga não pode viver nutrindo esse ódio o
tempo todo e que a Alemanha mudou depois do nazismo. Jo, que é de uma geração
mais nova, e não vivenciou os horrores da guerra, prefere que seu país olhe
adiante e se reconstrua. Martha acredita que isso é varrer o passado para
debaixo do tapete. A coisa fica ainda mais interessante quando Jo recebe a
visita de sua mãe, Elfriede (interpretada por Corinna Kirchhoff), e de seu avô
Bruno (interpretado pelo polivalente Bruno Ganz). Aí, podemos ver três gerações
de alemães interagindo: a que vivenciou a guerra e seus horrores, a que
vivenciou a reconstrução do pós guerra e a geração mais atual, que não
vivenciou tais mazelas. E esse é o momento mais marcante e forte do filme, que
os “spoilers” não me permitem entrar em mais detalhes.
É muito interessante
notar como essas três gerações estão interligadas e uma afeta a outra,
mostrando que o fardo do nazismo é muito pesado para um país carregar. Isso
somente reforça a importância de regimes e governos mais democráticos em
detrimento dos regimes autoritários, que de tão nocivos, provocam traumas até
em tempos de paz e liberdade. Em relação à interpretação dos atores, elas foram
razoáveis, mas extremamente contidas, com muito pouca emoção. Os poucos minutos
da presença de Bruno Ganz salvaram um pouco a coisa, onde ele transbordou muita
simpatia, emoção e, principalmente, despertou comoção em suas memórias sobre o
passado. Mas a grande mensagem é a de que, apesar de todas as mazelas que o
nazismo provocou, a cultura alemã não é de se jogar fora e nos produziu muitas
pérolas, do status de um Goethe, Schiller, Beethoven ou Bach. E o diálogo entre
as três gerações de alemães ajuda a resgatar esse sentimento de valorização do
povo alemão.
Assim, “Amnesia” é um
daqueles filmes que não pode se perder, pois ele nos lança à reflexão da
interação de gerações que tiveram o fardo no nazismo sobre elas e de como os
indivíduos reagem e trocam experiências a respeito de tão complexa temática. Um
filme para ver, ter e guardar. Programa imperdível.
Cartaz do Filme
Martha e Jo. Uma amizade de gerações
Martha renega seu passado alemão
Bruno Ganz arrebentou!!!
Max Riemelt e Marthe Keller com o diretor Barbet Schroeder numa coletiva de imprensa
Inaugurando um Site
Olá a todos. Quero passar aqui rapidinho para dizer que estou inaugurando um novo site, o Batata Espacial. Será um outro espaço para tratar de temas culturais em geral, com uma ênfase maior em cultura nerd, mas também com espaço para literatura, crítica literária e cinematográfica, música, quadrinhos e notícias de cultura em geral. Já o Yoshiwara´s World vai continuar com a mesma pegada cinematográfica de sempre. Se você quer participar do Batata Espacial como colaborador, entre em contato com o e-mail lohseuruguai@gmail.com . Estarei esperando. Por hora, convido vocês a visitarem o site. Ele ainda está em construção, mas já funcionando. Acessem www.batataespacial.com.br . Aguardo vocês lá! Um abraço!!!