X
Men Apocalipse. Lágrimas Intrusas Numa Ação Moderada.
Mais um filme do
Universo Marvel, agora sob a batuta da Fox, estreou em nossas telonas. “X Men,
Apocalipse”, elevou o nível das aventuras dos mutantes para o patamar do ótimo
“X Men, Primeira Classe”, depois de um “X Men, Dias De Um Futuro Esquecido” um
tanto combalido, onde Patrick Stewart, que havia interpretado um Charles Xavier
que foi feito picadinho por Jean Grey, retorna sem maiores explicações. Desta
vez, não tivemos fatos mal explicados como esse e o fio narrativo mostrou boa
coerência. Ainda, foi uma história que prendeu a atenção do início ao fim,
muito bem escrita, com pouquíssimos problemas. Só devo avisar que, para
podermos analisar o enredo da película, serão necessários alguns “spoilers”.
No que consiste a
trama? Em 3100 a.C., no antigo Egito, Em Sabah Nur, uma espécie de líder, provavelmente
um faraó, fez uma cerimônia para passar sua alma para um corpo mais jovem, que
era de um mutante (interpretado por Oscar Isaac, o Poe Dameron de “Guerra nas
Estrelas”). Mas um grupo de opositores resistiu a isso e soterrou o líder no
novo corpo, ficando nessa situação por milhares de anos. Chegando à nossa era,
o líder é ressuscitado por um grupo de religiosos e ele pretende fazer uma
espécie de “upgrade” no mundo, pois constatou que os fracos assumiram o poder e
o corromperam. Para isso, Apocalipse (ele tem esse nome, pois sempre recrutava
quatro mutantes como seguidores) irá contar com a ajuda de Anjo, Tempestade,
Magneto e Psylocke, seus novos quatro cavaleiros. Caberá aos comandados de
Charles Xavier lutar contra esse mutante altamente maligno e perigoso para
salvar o mundo da destruição certa.
Esse filme tem detalhes
muito interessantes. Em primeiro lugar, é um filme de super-heróis com uma quantidade
menor de cenas de ação, abaixo da média para o que vemos em um “Os Vingadores”
da vida, por exemplo. Isso é ruim? Não! Pelo contrário! Mesmo que isso tenha
acontecido, a trama é altamente envolvente e não nos deixa desgrudar o olho um
segundo da telona. O grande barato aqui é a história em si e não as cenas de
ação ou CGI, que ficaram a cargo do lendário John Dykstra, o mesmo que lá em
1977 ficou responsável pelos efeitos especiais de “Guerra nas Estrelas”. O
início da película ficou marcado por pequenas histórias separadas de mutantes
(o núcleo da escola de Xavier, o núcleo de Ciclope e Jean Grey, o núcleo da
Mística com o Noturno, o núcleo do surgimento de Apocalipse e o núcleo de
Magneto vivendo uma vida pacata na Polônia com mulher e filha). Todas estas
histórias inicialmente independentes tinham o seu charme especial e depois foram
muito bem amarradas. Dada a boa estrutura do roteiro nessas primeiras partes do
filme, nem sentimos falta das cenas de ação que foram muito poucas aqui.
Em segundo lugar, o
vilão foi bem concebido. Apocalipse contou com uma ótima interpretação de Oscar
Isaac, que percebeu a natureza complexa do personagem e lhe deu um
comportamento de consciência de sua onipotência, mas também de muito
paternalismo. A forma como Apocalipse arregimentava seus cavaleiros era
altamente sedutora. Ele dirigia-se a seus alvos como “filhos” que deviam se
libertar da escravidão de suas fraquezas e, ao mesmo tempo, ajudava-os a amplificar
seus poderes, dando ao comandado um gostinho de onipotência. Até Charles Xavier
sentiu esse gostinho de poder, embora logo depois ele tenha lutado severamente
contra isso. Tais características faziam com que Apocalipse despertasse
sentimentos de amor, ódio e idolatria nos demais personagens, o que deve tornar
a interpretação desse personagem algo difícil e não trivial, e Isaac parece ter
tirado de letra toda a adversidade que um papel desse nível pode impor. Pontaço
para ele que deve estar querendo fugir do estigma do “ator de um personagem
só”, agora que ele se meteu a fazer “Guerra nas Estrelas”, uma franquia craque
em marcar atores no que se refere a essa questão de um único papel. Harrison
Ford escapou desse fardo. Esperemos que Isaac também obtenha sucesso.
Mas o grande detalhe do
filme foi algo muito singelo: a lágrima. Poucas vezes no cinema, a lágrima foi
um detalhe tão notado e importante como nesse filme. E estamos falando de uma
história da Marvel de super-heróis, onde as cenas de ação e os CGIs deviam
ser as grandes atrações. Mas por qual caminho a lágrima mais se manifestou?
Principalmente através do personagem Magneto, interpretado pelo atorzaço que é
Michael Fassbender. Na minha modesta opinião, esse é o personagem mais
interessante do Universo de X Men. Vítima da perseguição dos nazistas (perdeu
seus pais em Auschwitz, para perceber a barra pesada da situação), nosso amigo
Erick ainda passou pelas agruras da perseguição dos humanos aos mutantes,
levando-o a um estado de ódio contra a humanidade. Mas seu amigo Xavier sempre
tenta dissuadi-lo desse ódio, deixando Magneto num baita conflito existencial.
Essa sua natureza dúbia torna-o muito interessante, um verdadeiro Anakin
Skywalker magnético! E esse filme deu uma atenção especial para esse
personagem. Erick seguiu as recomendações de Xavier e tentou se enturmar com os
demais humanos, trabalhando numa siderúrgica na Polônia. Mas, ao salvar um
amigo na fábrica usando seus poderes mutantes, levantou desconfianças de que
era o mutante que, em 1973, provocou a morte de um monte de pessoas, o que
levou seus amigos a persegui-lo, e isso teve como consequência a morte de sua
esposa e sua filha. A dor que Fassbender imprimiu a seu personagem foi muito
sincera e lá as lágrimas tiveram papel fundamental. O grito que ele dava aos
céus explicitando toda sua indignação contra Deus por tudo de ruim que
acontecia em sua vida foi algo igualmente doloroso, assim como a singela
lágrima que descia do rosto de Xavier quando ele se comunicava com Erick e
lamentava a morte da esposa e filha do amigo. Esses foram momentos simples, mas
que fizeram toda a diferença nesse filme, colocando-o num patamar muito
elevado. Nesse momento, o blockbuster convencional ultrapassou os limites do
comercial e avançou pelo campo emocional do cinema de arte. Confesso que
lágrimas também rolaram de meus olhos e a dupla morte da esposa e filha de
Erick despertaram expressões de surpresa, perplexidade e o silêncio de uma dor
que o público compartilhou com o personagem. E não podemos nos esquecer de que
estamos falando de um filme de super-heróis. Esse é um momento mágico que só o
cinema pode proporcionar.
Agora, o filme teve um
pequeno problema no roteiro, quando Apocalipse conseguiu o domínio de todas as
ogivas nucleares da Terra e simplesmente as descartou. Não teria sido melhor
usá-las ali mesmo para provocar a tal aniquilação que ele tanto queria com o
objetivo de se estabelecer seu novo começo? Sei não, essa parte ficou um tanto
incoerente e poderia ter sido mais bem aproveitada, tornando o filme ainda mais
interessante do que já foi. Mas devo ressaltar que esse pequeno problema não
tira a grandeza do que foi esta película e ainda assim ela vale muito a pena.
Assim, “X Men,
Apocalipse” é um programa obrigatório para todo amante da Marvel e seus
quadrinhos. Mas também é obrigatório para todo amante do cinema, pois, apesar
de ser um bom blockbuster, o filme tem outros elementos interessantes, como a
boa construção do vilão e o uso de algo tão simples como a lágrima para dar
grande carga emocional às sequências, criando um clima intimista entre público
e personagem que só nos faz mergulhar mais ainda na história. Não deixem de
ver! E também não deixem de ver o trailer após as fotos.
Cartaz do Filme
Um vilão bem construído
Mística em conflito...
Erick, mais uma vez a tragédia abalou sua vida...
Xavier, seduzido por seu poder amplificado...
Mutantes jovens
Um resgate hipersônico...