Continuemos nossas
elucubrações sobre o Episódio VII. Uma personagem nova e interessante que
surgiu nesse filme foi Phasma. Alguns fãs (leia-se os podcrastinadores do
Abacaxi Voador) acharam que a personagem foi subaproveitada. Pode até ser.
Entretanto, o fato de uma mulher ser stormtrooper, assim como os protagonistas
principais serem uma mulher (Rey) e um negro (Finn), mostram os novos tempos de
como grupos sociais outrora marginalizados agora merecem mais destaque, ao
invés do óbvio WASP loirinho de olhos azuis que era Luke Skywalker lá na década
de 70. Esperemos que Phasma tenha mais destaque nos próximos episódios, pois
sua presença é uma ótima ideia. Há quem diga que não dá para se usar todas as
ideias num só filme, já que temos uma trilogia pela frente. Vamos aguardar.
Eu disse que deixaria
mais para o final uma discussão que o papel do olhar tem nesse filme. Pois bem,
essa foi a melhor coisa da película em termos cinematográficos, na minha
modestíssima opinião. A comunicação de alguns personagens pelo olhar, sem o uso
de palavras. Um verdadeiro discurso implícito no olhar, uma herança do cinema
mudo num blockbuster de 2015! Há vários tipos de olhar no filme. Temos o caso
do general Hux, que discursa olhando mais para o infinito do que para seus
stormtroopers subordinados, numa mostra de que está totalmente embriagado pelo
poder, pelo ódio e pela autoconfiança, cujo olhar anula o indivíduo existente
na massa de subordinados e transforma os soldados em meras engrenagens de uma
estrutura coletiva que assegura o poder da Primeira Ordem.
Mas existem outras
situações mais profundas do olhar. Podemos pensar no caso de Rey. Já vimos o
passado da moça, sendo abandonada, ainda menininha, em Jakku. Quando ela está
na Millenium Falcon com Solo e fica intrigada com todo o verde do planeta do
sistema Illenium onde está a cantina de Mas Kanata, Solo a olha com pesar, como
se ele tivesse alguma parcela de culpa no abandono da moça em Jakku. Numa outra
passagem do filme, ele olha para ela com orgulho quando a vê escalando o
gigantesco fosso da Starkiller. E dá olhares intrigados quando a moça dá
mostras de que sabe de tudo da Millenium Falcon. O mesmo acontece com a troca
de olhares afetuosos entre Rey e Leia, além do grande abraço que elas dão uma
na outra. Todo aquele carinho deixa evidente que há um passado implícito entre
elas. Mãe e filha? Eu acredito muito nisso. Mas...
Agora, a grande
presença do olhar no filme está justamente em seu desfecho, quando Rey encontra
Luke Skywalker. Eu posso ver essa sequência final mil vezes no cinema e não me
cansarei! Ali, o cinema está em estado puro, somente na materialidade das
imagens dizendo tudo para nós! É um momento que leva às lágrimas! Rey subindo a
montanha na ilha, num cenário ancestral. O encontro com Luke. O olhar intrigado
do cavaleiro jedi, que preferiu o autoexílio a levar adiante a Ordem dos
Cavaleiros, em direção à moça. A menina que mostra ao mestre o sabre de luz,
com um olhar que implora por sua ajuda. A constatação, por parte do velho Cavaleiro,
de que a responsabilidade novamente o chama. Tudo isso sem um diálogo sequer!
Um momento desse vale mais do que um milhão de CGIs!!! E eu sobrevivi para ver
isso em “Guerra nas Estrelas”, concebida inicialmente como uma fantasia
espacial para o público infantil. É por essas e por outras que essa história
tem tantos fãs de todas as idades no mundo inteiro. A sequência final do
Episódio VII é uma mostra de que há um amadurecimento, há um desenvolvimento na
saga. E aí, “Guerra nas Estrelas” passa
a ser muito mais do que sua proposta inicial. É muito legal ver tudo isso
acontecendo.
Só ficou uma dúvida
nessa cena final. Por que o Luke tinha aquela mão mecânica horrorosa, se em “O
Império Contra Ataca”, sua mão mecânica era praticamente uma réplica de uma mão
original? Num filme com tantas alusões a episódios antigos, vai haver um furo
logo com um personagem tão importante? Ou será que essa nova mão mecânica do
Luke em estilo retrô vai ter uma explicação nos próximos episódios?
No próximo artigo (o
nosso último, ufa!), falaremos das perspectivas para o Episódio VIII. Até lá!
Phasma, uma ideia subaproveitada...
Phasma foi interpretada pela atriz Gwendoline Christie
General Hux. Olhar com ódio que anula o indivíduo
Leia. Olhar afetuoso para Rey...
Grande momento do filme. Luke Skywalker e sua constatação de que a responsabilidade o chama. Cinema em estado puro!!!