Chatô,
O Rei Do Brasil. Muito Barulho Por Nada.
E finalmente, depois de
vinte longos anos, saiu o filme “Chatô, O Rei do Brasil”. A produção dirigida
por Guilherme Fontes ficou mais conhecida pelas suspeitas de mau uso das verbas
públicas pelo diretor e sua posterior condenação do que a trama do filme em si,
que se baseia no livro homônimo de Fernando Morais, que fez uma biografia do
magnata da mídia brasileira Assis Chateaubriand, um homem de visão que, além de
ser dono dos Diários Associados e de ter editado a revista “O Cruzeiro”, fez incursões
com o rádio e trouxe a televisão para o Brasil, sendo o fundador da TV Tupi. Chatô,
como passou a ser conhecido, era, ao mesmo tempo, um homem muito astuto (para
ele, o patrocínio em jornal deveria ter um destaque maior para gerar mais
dinheiro e possibilitar a veiculação da notícia) e uma verdadeira vaca brava lá
da Paraíba que queria valorizar a cultura nacional perante uma nascente
burguesia brasileira e, por que não, perante a burguesia internacional,
tornando-se um personagem fascinante para se escrever uma biografia. E, à
reboque do “best-seller” de Morais, veio o filme...
E o que podemos dizer
da película em si? Em primeiro lugar, o filme não obedece uma estrutura
narrativa mais tradicional que, a meu ver, seria mais adequada para contar a
história de vida de uma pessoa. A narrativa é fragmentada e não linear, fazendo
idas e vindas no tempo, o que incomoda um pouco, principalmente ao início do
filme, onde temos uma sucessão muito rápida de pequenos trechos da vida do
jornalista, numa sucessão praticamente aleatória e estroboscópica, dando uma má
impressão. Com o tempo, os trechos do filme se “detêm” mais em determinadas
épocas, apesar de ainda termos idas e vindas ao longo da sequência cronológica.
Tal estilo de narração é mais favorável para a proposta de Fontes, onde era
feita uma visão romanceada da vida do protagonista, quando chegamos a
presenciar um programa de tv onde um Chatô já combalido pela trombose era
(pasmem) julgado e seu advogado de defesa era ninguém mais, ninguém menos
que... Getúlio Vargas! Sei não, é uma forma de se apresentar uma biografia, mas
confesso que não me agradou. A coisa ficou com carinha de show biz (e era essa
a intenção), um tanto bobinha. Em virtude da expectativa criada em cima desse
filme por todas as querelas dos últimos anos, confesso que queria algo mais palatável
como foi, por exemplo, a cinebiografia do Barão de Mauá, protagonizada por
Paulo Betti, onde houve a preocupação de se contar a história cronologicamente,
sem voos narrativos maiores, nem devaneios semimusicais. Mas uma coisa deu para
se verificar em “Chatô”: houve um cuidado muito grande com a reconstituição de
época e os cenários do programa de auditório. Pareceu que muita grana foi gasta
mesmo. Só fica difícil dizer se toda ela foi gasta nisso. Mas, deixa quieto...
Outro detalhe
interessante do filme foi o estelar elenco. Marco Ricca fez um belo Chatô,
explosivo e caricato. Mas o filme também contou com uma estonteante Letícia
Sabatella de vinte anos atrás, uma Andréa Beltrão, muito bem no filme, assim
como uma Leandra Leal com cara de garotinha e uma sensual Eliane Giardini. Paulo Betti fez um excelente Getúlio Vargas e
ainda pudemos matar as saudades de José Lewgoy e Walmor Chagas, somente para se
ter uma ideia de há quanto tempo esse filme foi rodado.
Dessa forma, “Chatô, O
Rei do Brasil”, acabou soando menos que o esperado, com uma cara de muito
barulho por nada. Pareceu que a biografia do protagonista não foi tão levada à
sério. Mas, repito: essa é apenas uma forma de se tratar a história de um
filme. Só não a acho adequada para contar a vida de uma pessoa. Fragmentar a
narrativa sempre pode confundir um pouco a cabeça do espectador que nada sabe
sobre a trajetória do biografado. Pelo menos tinha a Letícia Sabatella...
Cartaz do filme
Guilherme Fontes. Finalmente seu filme saiu depois de um tumultuado processo...
Chatô, um magnata esperto que era uma verdadeira vaca brava...
Cabra da peste!!!!
Paulo Betti (direita) fez um excelente Getúlio Vargas.
Fontes na direção.
Andréa Beltrão. Destaque como Vivi, uma mulher poderosa e influente.
O filme tinha boas caracterizações. Betti como Vargas.
Fernando Morais, o autor da famosa biografia
Capa da biografia com o verdadeiro Chatô