O
Clube. O Lado Negro Da Igreja Católica.
Um filme chileno
extremamente agressivo aos nossos sentidos. E, por isso mesmo, muito bom,
embora ele deixe um gosto amargo no estômago. Essa é a impressão de “O Clube”, de
Pablo Larrain, um filme consagrado pelo Urso de Prata no prêmio do Júri do
Festival de Berlim desse ano. A película trata de forma extremamente
contundente um tema altamente espinhoso: os casos de homossexualismo e
pedofilia na Igreja Católica. E de como a maldade humana não tem limites. É um
filme que te indigna e te enoja, e você sai da sala arrasado e profundamente
decepcionado com a humanidade e seu mar de hipocrisias.
Vemos aqui a história
de quatro padres que vivem juntos com uma irmã numa casa no meio de uma
cidadezinha litorânea do Chile, que é altamente soturna e melancólica. Dentre
as poucas diversões do local está a aposta em corridas de cachorros. Os padres
e a irmã vivem juntos nessa casa isolada, pois eles estão impedidos de exercer
o sacerdócio, já que “pisaram na bola” e devem permanecer um longo (talvez
perpétuo) período de penitência e arrependimento em virtude de seus pecados. Pode-se
dizer que a Igreja Católica “condenou à prisão” esses padres. Dentre os atos
condenados pela Igreja que os padres cometeram estão a pedofilia, o
homossexualismo, a violação da confidencialidade da confissão e a doação de
filhos de uma família para outra, frutos de gravidez indesejada. Um belo dia,
um quinto padre excessivamente atormentado chega à essa singela comunidade, mas
acaba se suicidando com um tiro na cabeça depois de um homem que fora vítima
dos casos de pedofilia na Igreja ficar provocando os padres em frente à casa
contando em voz alta os casos de sexo oral e anal ao qual foi submetido por um
padre quando jovem. Devido ao desfecho violento do novo hóspede, a Igreja
enviou um psicólogo que vai tratar o grupo de uma forma excessivamente tradicional
e muito, muito dura, criando sérias situações de conflito. E não podemos nos
esquecer do homem que continuava tocando no passado turbulento de todos aqueles
padres. Toda essa situação altamente caótica meio que provocou uma piração
geral em todos, que buscaram uma solução violenta, esdrúxula e desprezível para
o problema, com a “devida” aprovação da Igreja Católica na figura do psicólogo.
Você sai da sala revoltado com o que viu, é um filme que realmente mexe com
você. O mais lamentável é que, na sua ânsia de manter a integridade dos
paradigmas, a Igreja Católica impiedosamente destrói vidas e noções básicas de
caráter. E, como dizia o comunista João Saldanha, vida que segue, como se nada
de mais sério tivesse acontecido. É uma película altamente agressiva e, por
isso mesmo, muito boa, pois ela bota a sua cabeça para funcionar e questionar.
O sentimento mais latente ao fim da exibição é o de raiva.
Só é de se lamentar a
péssima qualidade da cópia (ou será que ela foi produzida assim mesmo?), muito
escura e pouco nítida, o que só aumentava o sentimento de angústia ao longo da
projeção.
Assim, se “O Clube” tem
a propriedade de ser altamente odioso e agressivo ao público, por outro lado
essas características são, ao mesmo tempo, as grandes virtudes do filme, já que
elas nos sacodem por dentro, nos deixam profundamente indignados perante as
injustiças provocadas no interior da Igreja Católica, sobretudo nos casos de
pedofilia. Um filme fundamental. Um filme que te faz chorar de raiva. Um filme
que te deixa profundamente indignado. Um filme de denúncia, cumprindo a função
social do cinema.
Cartaz do filme
Um grupo exótico
Passado atormentado por casos de abuso sexual
Cachorros, a única diversão.
Um psicólogo altamente opressor. Poder da Igreja Católica
O diretor Pablo Larrain
Em Berlim