terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Impressões sobre o Oscar - Apêndice: A Separação, Filme do Irã

Uma coisa que me esqueci de colocar na postagem anterior... o Oscar para filme estrangeiro foi para o ótimo (ótimo mesmo!!!) “A Separação”, do Irã. Esse filme fala da história de um casal onde a esposa quer tentar a via no exterior e o marido quer permanecer no Irã porque precisa cuidar do pai que é portador de Alzheimer. No meio desse conflito, está a filha adolescente dos dois que não quer a separação deles e fica ao lado do pai, na esperança de que a mãe volte um dia. Como o marido não pode cuidar do pai, pois ele precisa trabalhar, ele contrata uma empregada para isso. Essa empregada tem uma filhinha que é simplesmente uma gracinha!!! A empregada estava grávida e, num dia, se descuidou. Assim, o velho saiu a rua e ela foi atrás pegá-lo. Quando o marido chegou a sua casa, encontrou o pai amarrado e expulsou a empregada, empurrando-a. Ela entrou na justiça, alegando que perdeu o bebê por ter sido empurrada. E aí começa toda uma querela judicial onde fica bem clara uma crítica ao sistema de leis no Irã, onde os textos sagrados têm muita relevância, algo típico do Estado Teocrático. Não vou contar o final do filme aqui, que tem outros desdobramentos muito interessantes, não havendo vilões ou vítimas. Todos são humanos e cada personagem do filme carrega suas aflições e angústias. É um filme para se muito refletir sobre o relacionamento humano, a condição humana e de como um Estado autoritário influencia demais na individualidade das pessoas. Filmaço, aço, aço... e que se danem os detratores do cinema iraniano... desculpem-me mas às vezes a gente tem que ser um pouco malcriado... “ A Separação” está em cartaz!!! Não deixem de ver... ou peguem na locadora depois... camelô? Só se ele for muito cinéfilo demais!!!

Cena de "A Separação": casal em litígio
Cena de "A Separação": empregada e marido
O Diretor Farhadi e seu merecido Oscar

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Impressões Sobre o Oscar...

Hoje vou falar sobre a cerimônia de premiação do Oscar, ocorrida ontem à noite. Esse é um ano especial, pois os grandes favoritos homenageavam o cinema mudo. O filme francês “O Arista”, considerado o grande vencedor (filme, diretor, ator, figurino e trilha sonora) foi feito em preto e branco, mudo e focava justamente a transição do cinema mudo para o cinema falado, fato que destruiu carreiras de muitos atores (e, em alguns casos, até vidas mesmo!), pois Hollywood era um celeiro de artistas estrangeiros naquela época. O forte sotaque de alguns, as vozes estridentes de outros foram fatais em alguns casos. O falado também fez cair por terra toda uma linguagem e arte de interpretação baseadas no gestual e na materialidade visual que começou numa pantomima rudimentar e se desenvolvia cada vez mais ao longo da década de 1920. Os filmes mudos ficavam com menos legendas e a linguagem baseava-se cada vez mais nas imagens. Isso, infelizmente, se perdeu com o falado, que, no início parecia um teatro filmado. Podemos dizer que a linguagem do cinema mudo até hoje aparece eventualmente em alguns filmes falados. E grandes caras como Vinícius de Moraes e Charles Chaplin sempre falavam que o verdadeiro cinema era o mudo (o próprio Chaplin só fez seu primeiro filme falado, “O Grande Ditador” na segunda metade da década de 1930!). Voltando ao Oscar de ontem, a reconstituição de época nos mínimos detalhes foi primorosa. Os atores estavam ótimos, interpretando ao bom estilo do cinema mudo. Parecia realmente um filme de 1927!!!! Somente as mulheres é que não pareciam muito as stars da década de 1920. Faltava a proporção 2 para 1 dos olhos para a boca e o batom em forma de coraçãozinho. Tinha glamour mas faltou it. De qualquer forma, foi um filmaço e, para um amante dos silent movies como eu, levou lágrimas aos olhos...
O outro favorito da noite “ A Invenção de Hugo Cabret”, dirigido nada mais nada menos por Martin Scorsese, também ganhou cinco prêmios, todos técnicos (efeitos visuais, edição de som, etc.). Confesso que esse filme deveria ter ganhado pelo menos um dos grandes prêmios, fosse diretor ou filme. “Hugo Cabret” também homenageou o cinema mudo, com um toque especialíssimo: homenageou Georges Méliès. Esse foi o cara, como falamos hoje. O mágico que se interessou por cinema fez filmes simplesmente sensacionais no início do século 20. Criou muitos efeitos especiais que fazem parte do cinema ainda hoje. Não podemos falar de Star Wars nem de todos os efeitos visuais de hoje sem falar de Méliès. Sua “Viagem à Lua” é um clássico da história do cinema, assim como seus céus cheios de estrelas e figuras mitológicas gregas. O cinema como arte ilusória em sua própria essência encontrou em Méliès seu lado lúdico e fantástico que todo cinéfilo muito ama. Assim, creio que “Hugo” merecia sorte melhor. O 3D também foi magistralmente utilizado no filme, não como um efeito de efeito especial, mas como um artifício para a reconstituição da época. Isso sem falar que pudemos ver trechos de filmes originais de Méliès em 3D!!!! Só isso já vale o ingresso!!!! Ah, não podemos nos esquecer de Bem Kingsley como o “Papa George” e do livreiro interpretado por Christopher Lee...
Mas o Oscar teve outros detalhes interessantes. Melhor roteiro original para Woody Allen em “Meia Noite em Paris”, que homenageia a Bélle Epóque. Vale muito a pena dar uma conferida nesse filme!!!! Grandes nomes da literatura como Hemingway, Scott Fitzgerald, e nomes da arte como Picasso e Dali aparecem como personagens do filme. Allen não apareceu novamente, pois acha essas festinhas um saco. O melhor roteiro adaptado ficou para “Os descendentes”, com boa atuação de George Clooney fazendo um pai em crise com as filhas e a mulher em estado terminal após um acidente de esqui aquático. Ele até merecia o Oscar de melhor ator, mas ele deu azar, pois, com “O Artista” no páreo, Clooney não teve muita chance. Meryl Streep, depois de 17 indicações, ganhou seu terceiro Oscar em “A Dama de Ferro”, onde ela interpreta muito bem a Margaret Thatcher. Esse filme também ganhou o prêmio de melhor maquiagem. Christopher Plummer, grande ator, ganhou o prêmio de coadjuvante, depois de papéis em “A Noviça Rebelde” e em “Jornada nas Estrelas VI”, onde ele interpretou o klingon golpista Chang (por que não citar isso? Ele fez um klingon que citava Shakespeare, pô!!! Kaplá!!!!). Um filme que também merecia sorte melhor (só ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante) foi “Histórias Cruzadas” onde uma menina branca de uma família tradicional do sul dos Estados Unidos na década de 1960, escreve um livro se baseando nas entrevistas de empregadas domésticas negras que muito sofriam com a discriminação racial. Deveria haver um prêmio de melhor atriz para esse filme também. Mas... Para terminar, oscares honorários para o maquiador do “Exorcista” e James Earl Jones, a famosa voz de Darth Vader... Que o ano que vem seja muito melhor!!!! 
Cartaz de "O Artista"
Produtor, Ator e Diretor de "O Artista"
Cena de "O Artista"
Cartaz de "Hugo Cabret"
Hugo Cabret
A Famosa Cena de "Viagem a Lua", de Méliès
Cena de um dos filmes de Méilès

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Você Conhece Jackson Pollock????

Olá!!!! Hoje vou falar de um pintor expressionista americano da  década de 1940: Jackson Pollock. Ele ficou conhecido por seus grandes quadros onde ele fazia grandes pingos e traços de tinta, realizando bonitas composições de grande impacto visual.. Geralmente, ele colocava grandes pedaços de tecido no chão e ia jogando as tintas. Os mais clássicos dirão que é só um monte de tinta jogada na tela, mas é muito interessante os efeitos de cor que seus quadros possuem e como ele trabalha as cores e suas tonalidades. Bom, gostando ou não, ninguém fica indiferente. Quanto à sua vida, há um filme onde Ed Harris o interpretu e foi passada uma imagem de um homem atormentado e alcoólatra, que sofria muito com crises de criação. Vale a pena dar uma olhada nesse filme. Lá, também é mostrado que ele se suicida provocando um acidente de carro quando o dirigia com duas adolescentes dentro. Uma delas acabou morrendo também. Apesar de sua história trágica, ficaram as obras dele, que era um grande artista. Segue agora suas pinturas e, ao final, coloquei um pequeno texto que achei na internet em inglês sobre ele. Me desculpem, mas fiquei com preguiça de traduzir... Espero que gostem...

On the floor I am more at ease, I feel nearer, more a part of the painting, since this way I can walk around in it, work from the four sides and be literally `in' the painting.
-- Jackson Pollock, 1947.
Pollock, Jackson (1912-56). American painter, the commanding figure of the Abstract Expressionist movement.
He began to study painting in 1929 at the Art Students' League, New York, under the Regionalist painter Thomas Hart Benton. During the 1930s he worked in the manner of the Regionalists, being influenced also by the Mexican muralist painters (Orozco, Rivera, Siqueiros) and by certain aspects of Surrealism. From 1938 to 1942 he worked for the Federal Art Project. By the mid 1940s he was painting in a completely abstract manner, and the `drip and splash' style for which he is best known emerged with some abruptness in 1947. Instead of using the traditional easel he affixed his canvas to the floor or the wall and poured and dripped his paint from a can; instead of using brushes he manipulated it with `sticks, trowels or knives' (to use his own words), sometimes obtaining a heavy impasto by an admixture of `sand, broken glass or other foreign matter'. This manner of Action painting had in common with Surrealist theories of automatism that it was supposed by artists and critics alike to result in a direct expression or revelation of the unconscious moods of the artist.
Pollock's name is also associated with the introduction of the All-over style of painting which avoids any points of emphasis or identifiable parts within the whole canvas and therefore abandons the traditional idea of composition in terms of relations among parts. The design of his painting had no relation to the shape or size of the canvas -- indeed in the finished work the canvas was sometimes docked or trimmed to suit the image. All these characteristics were important for the new American painting which matured in the late 1940s and early 1950s.




domingo, 5 de fevereiro de 2012

Filmes que você tem que ver antes de morrer (1) - DUNA

Olá a todos. Hoje vou inaugurar mais uma seção aqui no blog. Como todos já sabem, cinema aqui merece destaque especial e, inspirado naquela publicação "1001 filmes para se ver antes de morrer" (acho que o título é esse), farei a seção "Filmes que você tem que ver antes de morrer". Hoje, vou começar com uma produção do Dino de Laurentis (o mesmo que, se não me engano, dirigiu Conan) e a dirreção de David Lynch, "Duna",baseado no livro de ficção científica de Frank Hebert.
Por que ver esse filme? Essa história é muito conhecida entre os admiradores de ficção científica e o filme era para ser uma grande superprodução. Mas  o filme se tornou um fiasco pois os fãs do livro o acusaram de não ser fiel à história (como sempre dizem) e a história era complexa demais sendo exibida num longa de cerca de três horas de duração. Além disso, Lynch retirou seu nome dos créditos do filme, pois ele achou que o longa sofreu muitas alterações sem sua autorização. O mesmo Lynch, que negou a direção de "O Retorno de Jedi" para se dedicar totalmente ao projeto de "Duna", que foi produzido em 1984. O elenco não conta com nomes muito conhecidos, mas temos figuras como Max von Sydow (o ator dos filmes de Ingmar Bergman, não preciso dizer mais nada),Sting (o cantor mesmo, que dá umas incertas no cinema algumas vezes, ele é meio estrelinha, coisa de ex-professor de história) e Patrick Stewart (isso mesmo, o capitão Picard ou professor Xavier, como desejarem). Mesmo com todos esses reveses, posso dizer que o filme é bem interessante. Ele conta a história de um império composto por cinco planetas, que foi dominado pelas máquinas no passado e os humanos retomaram o controle, depois de criar duas instituições racionais para resguardar o pensamento humano. Uma era composta de sacerdotisas e outra era composta de cientistas guardiões da linguagem matemática. As outras forças eram o imperador e duas dinastias principais em guerra: os Atreides e os Harkonnen. O imperador se reuniu aos Harkonnen para destruir a dinastia Atreides, que havia assumido o controle do planeta arenoso Duna, que possuía uma especiaria que provocava a longevidade nas pessoas, além de permitir viagens em dobra espacial. O líder do clã dos Atreides, o duque Leto Atreides teve um filho com uma concubina que era da liga das sacerdotisas. Estas controlavam o nascimento das pessoas, pois um "escolhido" por Deus chegaria. Assim, a concubina de Leto Atreides foi proibida de ter filhos homens. Mas ela desrespeitou isso e teve um filho homem, Paul Atreides, que é o herói do filme. A dinastia Atreides foi dizimada em Duna, mas Paul Atreides sobrevive com sua mãe e descobre que é o escolhido. Ele faz uma aliança com o povo nativo de Duna e monta um exército para derrotar o Imperador e os Harkonnen, que assumiram o controle do planeta. Mas o exército só será bem sucedido se Atreides dominar os gigantescos vermes do deserto, que são usados na extração da especiaria. Dominar os vermes é dominar a especiaria e dominar a todos. Impossível não fazer uma associação entre a ficção científica (esse sistema de cinco planetas aparece como um pano de fundo) e aquilo que vemos em História concernente ao feudalismo, absolutismo e Grandes Navegações. Guerras feudais, buscas desenfreadas por especiarias, alianças entre senhores feudais e líderes absolutos, além de um forte conteúdo religioso marcam muito essa produção que pode ser usada como uma porta de acesso para o universo de "Duna", que rendeu uma produção mais recente e, se não me engano, até uma série de TV. Mas acho que uma ida aos sebos para procurar os livros de Duna (isso mesmo, Duna foi apenas o primeiro livro!) é a melhor forma de explorar essa história complexa e interessante. Vale a pena conferir esse filme!!! Ah, a trilha sonora também é muito legal, feita por caras como Toto e Brian Eno...
Sting, todo afetado no filme. Ia ter uma cena com ele nu, mas desistiram da ideia (ufa!)
 
Olha só o tamanho do verme que o Paul Atreides teve que dominar!!!!