Hoje vou falar sobre a cerimônia de premiação do Oscar, ocorrida ontem à noite. Esse é um ano especial, pois os grandes favoritos homenageavam o cinema mudo. O filme francês “O Arista”, considerado o grande vencedor (filme, diretor, ator, figurino e trilha sonora) foi feito em preto e branco, mudo e focava justamente a transição do cinema mudo para o cinema falado, fato que destruiu carreiras de muitos atores (e, em alguns casos, até vidas mesmo!), pois Hollywood era um celeiro de artistas estrangeiros naquela época. O forte sotaque de alguns, as vozes estridentes de outros foram fatais em alguns casos. O falado também fez cair por terra toda uma linguagem e arte de interpretação baseadas no gestual e na materialidade visual que começou numa pantomima rudimentar e se desenvolvia cada vez mais ao longo da década de 1920. Os filmes mudos ficavam com menos legendas e a linguagem baseava-se cada vez mais nas imagens. Isso, infelizmente, se perdeu com o falado, que, no início parecia um teatro filmado. Podemos dizer que a linguagem do cinema mudo até hoje aparece eventualmente em alguns filmes falados. E grandes caras como Vinícius de Moraes e Charles Chaplin sempre falavam que o verdadeiro cinema era o mudo (o próprio Chaplin só fez seu primeiro filme falado, “O Grande Ditador” na segunda metade da década de 1930!). Voltando ao Oscar de ontem, a reconstituição de época nos mínimos detalhes foi primorosa. Os atores estavam ótimos, interpretando ao bom estilo do cinema mudo. Parecia realmente um filme de 1927!!!! Somente as mulheres é que não pareciam muito as stars da década de 1920. Faltava a proporção 2 para 1 dos olhos para a boca e o batom em forma de coraçãozinho. Tinha glamour mas faltou it. De qualquer forma, foi um filmaço e, para um amante dos silent movies como eu, levou lágrimas aos olhos...
O outro favorito da noite “ A Invenção de Hugo Cabret”, dirigido nada mais nada menos por Martin Scorsese, também ganhou cinco prêmios, todos técnicos (efeitos visuais, edição de som, etc.). Confesso que esse filme deveria ter ganhado pelo menos um dos grandes prêmios, fosse diretor ou filme. “Hugo Cabret” também homenageou o cinema mudo, com um toque especialíssimo: homenageou Georges Méliès. Esse foi o cara, como falamos hoje. O mágico que se interessou por cinema fez filmes simplesmente sensacionais no início do século 20. Criou muitos efeitos especiais que fazem parte do cinema ainda hoje. Não podemos falar de Star Wars nem de todos os efeitos visuais de hoje sem falar de Méliès. Sua “Viagem à Lua” é um clássico da história do cinema, assim como seus céus cheios de estrelas e figuras mitológicas gregas. O cinema como arte ilusória em sua própria essência encontrou em Méliès seu lado lúdico e fantástico que todo cinéfilo muito ama. Assim, creio que “Hugo” merecia sorte melhor. O 3D também foi magistralmente utilizado no filme, não como um efeito de efeito especial, mas como um artifício para a reconstituição da época. Isso sem falar que pudemos ver trechos de filmes originais de Méliès em 3D!!!! Só isso já vale o ingresso!!!! Ah, não podemos nos esquecer de Bem Kingsley como o “Papa George” e do livreiro interpretado por Christopher Lee...
Mas o Oscar teve outros detalhes interessantes. Melhor roteiro original para Woody Allen em “Meia Noite em Paris”, que homenageia a Bélle Epóque. Vale muito a pena dar uma conferida nesse filme!!!! Grandes nomes da literatura como Hemingway, Scott Fitzgerald, e nomes da arte como Picasso e Dali aparecem como personagens do filme. Allen não apareceu novamente, pois acha essas festinhas um saco. O melhor roteiro adaptado ficou para “Os descendentes”, com boa atuação de George Clooney fazendo um pai em crise com as filhas e a mulher em estado terminal após um acidente de esqui aquático. Ele até merecia o Oscar de melhor ator, mas ele deu azar, pois, com “O Artista” no páreo, Clooney não teve muita chance. Meryl Streep, depois de 17 indicações, ganhou seu terceiro Oscar em “A Dama de Ferro”, onde ela interpreta muito bem a Margaret Thatcher. Esse filme também ganhou o prêmio de melhor maquiagem. Christopher Plummer, grande ator, ganhou o prêmio de coadjuvante, depois de papéis em “A Noviça Rebelde” e em “Jornada nas Estrelas VI”, onde ele interpretou o klingon golpista Chang (por que não citar isso? Ele fez um klingon que citava Shakespeare, pô!!! Kaplá!!!!). Um filme que também merecia sorte melhor (só ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante) foi “Histórias Cruzadas” onde uma menina branca de uma família tradicional do sul dos Estados Unidos na década de 1960, escreve um livro se baseando nas entrevistas de empregadas domésticas negras que muito sofriam com a discriminação racial. Deveria haver um prêmio de melhor atriz para esse filme também. Mas... Para terminar, oscares honorários para o maquiador do “Exorcista” e James Earl Jones, a famosa voz de Darth Vader... Que o ano que vem seja muito melhor!!!!
Cartaz de "O Artista"
Produtor, Ator e Diretor de "O Artista"
Cena de "O Artista"
Cartaz de "Hugo Cabret"
Hugo Cabret
A Famosa Cena de "Viagem a Lua", de Méliès
Cena de um dos filmes de Méilès